Poucas coisas na vida ensinam mais que os temperos. Quando faltam, tudo fica sem graça e frio. Em excesso, queimam, desandam, causam repulsa e desprazer. Temperos são quase sempre pedacinhos de plantas, sementinhas moídas, minúsculos enigmas que precisam ser decifrados em combinações e dosagens que exigem sabedoria, bom gosto e um pouco de coragem.
Na vida, o tempero é a aventura, é o sair do comum insosso para descobrir os sabores de um momento que você constrói com cuidados, que faz seu coração bater mais rápido e colore suas bochechas. Não é a loucura do exagero de jogar tudo para o ar, destruir tudo o que construiu ao longo dos anos, mastigar inteira a malagueta das emoções.
Gosto das pequenas extravagâncias, mesmo em períodos como agora, de ficar em casa, de fazer a imaginação voar, tomar um vinho que nunca provei tentar fazer aquele prato que, com quase certeza, vai dar errado, mas um dia tinha que tentar. Ir para o jardim, renovar os canteiros, decidir que nunca mais vou usar temperos desidratados.
É a natureza que ensina. Você pode comer de tudo o que ela dá até se esbaldar, pode comer folhas e frutos, pode devorar sementes e cereais, degustar castanhas e raízes, mas o tempero sempre pede quantidades modestas. Não é por acaso que a palavra temperança vem de tempero. E temperança é aquele substantivo tão apropriadamente feminino que enaltece o controle das paixões e dos excessos.
No prato que o tempo nos serve no dia a dia, cabe a nós temperar aventura com prudência, ousadia com justiça, fortaleza com perdão. Assim como os pedacinhos de certas plantas abençoadas com sabores, aproveite cada momento para construir uma vida bem temperada, repleta da alegria de viver, mesmo que seu sorriso esteja atrás da máscara colorida, que vai se moldar e fazer você descobrir uma nova forma de viver.
Roberto Araújo
