
Para quem acha que os juros do cheque especial estão abusivos, mesmo porque voltaram ao patamar recorde do início da série histórica, iniciada em julho de 1994, basta atentar para o que ocorre hoje com os juros rotativos do cartão de crédito, que são aqueles tomados pelo consumidor quando paga menos que o valor integral da fatura do cartão. É inverossímil, mas a taxa de juros no cartão de crédito chegou a 447,5% ao ano, com alta de 8 pontos percentuais em relação a janeiro, de forma que o consumidor que gastar R$ 1.000,00 no cartão e pagar sempre o mínimo irá pagar mais de R$ 4.000,00 somente em juros no prazo de 12 meses. A taxa média das compras parceladas com juros, do parcelamento da fatura do cartão de crédito e dos saques parcelados, subiu 1,1 ponto percentual para 145,6% ao ano, enquanto a taxa do crédito consignado, aquele com desconto direto em folha de pagamento, ou seja, com inadimplência zero, ficou em 29,5% ao ano. Já a taxa do crédito pessoal, que é aquele contratado diretamente pelo correntista na agência bancária, aumentou 4,3 pontos percentuais somente em fevereiro e chegou a absurdos 122,8% ao ano.
O estudo do Banco Central revela que a taxa média de juros cobrada das famílias subiu 1,6 pontos percentuais em fevereiro, chegando a 68% ao ano. Em situação complicada também estão as pessoas jurídicas, já que a taxa média de juros cobrada das empresas subiu 0,2 ponto percentual para 31,9% ao ano no caso do crédito livre, que é aquele em que os bancos têm autonomia para aplicar o dinheiro captado no mercado e definir as taxas de juros. Diante disso é fácil concluir que aquele agiota que empresta dinheiro cobrando juros de 8% ao mês e que você considera um cara desprezível, ganancioso e, muitas vezes, desumano, na verdade é quase um santo quando comparado com as taxas praticadas na agiotagem que o Banco Central legalizou e que os banqueiros brasileiros adoram. É isso mesmo, o Brasil institucionalizou a agiotagem por meio do sistema financeiro nacional e, com isso, está garantindo resultados absurdos aos bancos públicos e privados, tanto que somente o lucro líquido do Itaú, Bradesco e Santander com prestação de serviços e tarifas bancárias bateu às portas dos R$ 50 bilhões no ano passado.
É muita concentração de renda em três instituições se for considerado que milhares de brasileiros batem todos os dias às portas dos hospitais públicos e postos de saúde e voltam para casa sem ter recebido o devido atendimento médico. A situação é ainda mais grave no caso do Banco do Brasil, uma instituição considerada privada mas que tem se especializado em buscar o lucro pelo lucro com o único objetivo de garantir rendimentos aos seus acionistas, ou seja, o governo federal penaliza o conjunto da sociedade por meio de um banco público para assegurar dividendos a uma elite que compra ações do Banco do Brasil. De janeiro a dezembro de 2015, o principal banco público brasileiro, que deveria se preocupar mais com o fomento e menos com os juros, obteve receitas com prestação de serviços como cartão de crédito e débito, contracorrente, administração de fundos e outros, bem como com tarifas bancárias compostos por pacotes de serviços, operações de crédito, transferência de recursos e outros, que somaram R$ 14,4 bilhões. Fica claro, portanto, que crise é uma palavra que os bancos brasileiros desconhecem!