SÃO PAULO - A dificuldade de locomoção já faz parte da vida da maioria dos brasileiros. Um estudo realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) revela que 66,6% da população brasileira convive com os congestionamentos, que afetam todas regiões do país.
Embora o transporte público ainda seja o principal meio de transporte para 44,3% dos brasileiros, o forte crescimento nas vendas de automóveis nos últimos anos ajudou a agravar o problema da mobilidade urbana no país. Entre 2000 e 2010, o crescimento da frota de automóveis foi de 83,5%, com o número de veículos em circulação passando de 20 milhões para 36,7 milhões.
\'Nas últimas duas décadas, o governo federal perdeu a capacidade de planejar o transporte público. Essa tarefa foi transferida a Estados e municípios, o que inviabilizou a articulação necessária para o desenvolvimento do setor\', explica o presidente do Ipea, Marcio Pochmann. A má qualidade do serviço prestado à população, juntamente com a melhora nas condições de emprego e renda, levou muitos brasileiros a buscar o automóvel como alternativa, ainda que isso representasse um peso extra no orçamento.
Dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), citados pelo Ipea, apontam que os gastos dos brasileiros com aquisição de veículos cresceram 24% entre 2003 e 2009, enquanto as despesas com alimentação encolheram 0,35% no período. Com isso, o grupo Transportes passou a dividir com Alimentação o segundo lugar no ranking de principais despesas de consumo no Brasil, atrás somente de Habitação.
O estudo do Ipea revela, porém, que quase 40% dos brasileiros se mostram dispostos a substituir o transporte individual pelo coletivo se este se tornasse mais rápido, barato e disponível. Dentre os entrevistados, 36,5% citam que já chegaram a desistir de ir a algum lugar por falta de linha no horário necessário.
\'Para que o transporte público melhore, é fundamental que o governo federal faça investimentos de grande magnitude em infraestrutura e pense em uma articulação do setor público com o privado. Sem esse esforço, fatalmente teremos congestionamentos ainda maiores nos próximos anos, o que implica em perda de produtividade e qualidade de vida\', avalia Pochmann.
Uma das providências que contribuiriam para a melhoria do transporte público no Brasil, de acordo com pesquisa, é a ampliação das integrações entre ônibus, metrô e trem. Nas cidades onde residem 26,3% dos entrevistados, essa opção não existe.
Mais investimentos em metrô, trem e VLT (Veículo Leve sobre Trilhos), aliados a incentivos por parte do governo para a substituição de automóveis e ônibus, \'diminuiriam o fluxo de veículos, os atrasos, o desconforto da população e a emissão de gases poluentes na atmosfera, beneficiando a saúde pública\', conclui o Ipea.
(Francine De Lorenzo | Valor)
(G1.com)