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Venturas e desventuras de Ludmila Lopes, a “Pior Palhaça do Mundo”

Artista, com mais de 10 anos de carreira no teatro, criou a palhaça durante a pandemia e dá a receita: “rir ainda é o melhor remédio”

05 Jun 2022 - 07h45
Ludmila Lopes, a “Pior”:  “o riso transforma nossa forma de olhar” - Crédito: DivulgaçãoLudmila Lopes, a “Pior”: “o riso transforma nossa forma de olhar” - Crédito: Divulgação
Quando você se "descobriu" como palhaça e onde buscou aprimorar-se nessa arte?
Sou atriz a mais de dez anos e a linguagem da palhaçaria sempre me chamou muita atenção, mas como eu sempre estive envolvida com produções culturais e outras linguagens do teatro nunca me restava um tempo e disposição pra estudar melhor essa linguagem, que demandava muito envolvimento. Em 2020, quando “estourou” a pandemia, a classe artística foi uma das primeiras a serem obrigadas a parar tudo e então me vi com mais curiosidade e tempo pra descobrir e vivenciar dessa linguagem. A partir daí, surge “A Pior Palhaça do Mundo”: da ânsia de experimentar e vivenciar o prazer e as dores da palhaçaria feminina. Busquei e busco me aprimorar nos encontros com o público, na troca sensível e direta das crianças mas, para além disso, fiz oficinas com nomes importantes dentro da palhaçaria feminina como Antônia Vilarinho, a palhaça Fronha (SC), Érica Rodrigues, palhaça Dolores (DF/BA) e Martha Paiva (RJ).
 
Você se lembra onde se apresentou pela primeira vez como palhaça profissional e qual a emoção?
Como a minha palhaça surgiu em meio a pandemia, meus primeiros e principais trabalhos aconteceram de forma online. Já participei de festivais como Festival UP, o maior festival on-line da América Latina, e FESTARA - Festival de teatro de Araçatuba (SP). Pela lei Aldir Blanc municipal produzi «Enclowsurada» uma mini-série de três capítulos e «Afinal, Quem é a Pior Palhaça do Mundo?», ambos disponíveis no canal do YouTube, Pior palhaça do Mundo.
 
Quais as dificuldades enfrentadas tanto pelos palhaços iniciantes como pelos palhaços profissionais?
Na minha vivência, a maior questão ainda é a forma em que as pessoas foram condicionadas a entender e olhar para linguagem da palhaçaria. Em vários momentos e situações eu sou chamada de palhaço, no masculino e isso além de me incomodar inviabiliza uma história forte e importante das mulheres nessa construção,  visto que hoje nós tomamos um espaço muito grande em festivais, mostras, teatros e principalmente nas ruas.
 
Qual é a importância dos palhaços e das palhaças para o circo, que tradicionalmente é o principal espaço dessa arte, e para os demais locais onde se apresenta?
Acredito que o principal espaço para palhaças é onde ela desejar pisar, seja no circo, numa sala, no hospital, na escola, no bar, na rua... Pra mim a importância é o encontro, a troca com as pessoas e o alívio cômico que esse momento pode trazer, visto que vivemos num país muito desigual e bagunçado pelos nossos governantes. O riso ainda é o melhor remédio pra enfrentar a vida. Óbvio que rir não te dará uma cama pra dormir no frio ou um prato de comida mas te fará acessar um lugar que possivelmente nunca seria acessado.  Dario Fo, que foi um dramaturgo e comediante italiano, dizia que quando a criança nasce, os pais tem a tarefa de fazê-los rir com caretas, porque no momento em que ela ri, significa que a inteligência nasceu. Ela soube distinguir o verdadeiro do falso, o real do imaginário, então acredito que está aí a importância da palhaça/palhaço/palhace fazer um encontro se tornar uma opção de acessar o que é real e o que é imaginário.
 
Você teve, no início da carreira e tem, agora, um "espelho" nesse meio?
Trago como referência várias pessoas artistas que passaram pela minha trajetória como, Antônia Vilarinho, Martha Paiva, Érica Rodrigues, Palhaça Adelaide, Palhaça Xamanga, Palhaça Maku, o grupo As Marias da Graça, Palhaces Gourmet, a galera dos Palhaços sem fronteiras, realmente são várias pessoas que eu admiro nessa linguagem. Não posso deixar de citar a Palhaça mixirica que também é a atriz Kelly Figueiredo do Grupo Casa de Campo Grande e a Thati Dmeo, palhaça Zureta também de CG.
 
Uma das definições de palhaço seria "aquele que faz rir". E o que faz a palhaça Ludmila rir?
Rir pra mim é um ato de resistência e de coragem muito grande, além de ser prazeroso, principalmente aquela risada com prazer, sem medo, o riso cura e libera outras emoções, então por isso, eu gosto de rir de tudo, rir no desespero, rir na raiva, rir na angústia, rir na alegria... Sabe aquela expressão «só rindo mesmo» ou « qualquer coisa dá risada»? são expressões que eu tento levar no meu cotidiano, porque o riso transforma nossa forma de olhar e nos leva pra vários caminhos, então no fim, é rindo que se aprende.
 
Como você concebe suas apresentações? Quais são as artes que se entrelaçam para formar um espetáculo?
Sou atriz de formação, então o teatro sempre me ajudou a criar caminhos cênicos pra criação de uma cena ou peça com a Pior, eu também sou muito curiosa nas linguagens circenses e na linguagem do teatro de objetos, aí pra conceber alguma apresentação, eu jogo tudo no meu caldeirão de ideias, deixo fervilhando até transbordar e se transformar em algo apresentável. 
É possível sobreviver sendo palhaça (o), hoje?
Ser palhaça infelizmente não é minha única profissão. Como toda artista independente, eu me desdobro em várias funções como, produtora, artesã e professora em formação pra conseguir pagar as contas no final do mês. Seria um ideal sobreviver da palhaçaria se os artistas não sofressem tantos ataques, falta de investimento e apoio. Por isso, hoje infelizmente não é possível viver  só dessa arte.
 
Além de ser palhaça, você pratica outra arte circense? Malabarismo, ilusionismo, equilibrismo, etc?
Eu sou pernalta, engano um pouco no malabarismos e faço bolhas gigantes e  mágicas de sabão.
 
O que mais te ofende como palhaça?
Me ofende me chamar de palhaço, no masculino. E também o fato de a linguagem da palhaçaria ser vista por uma parcela de pessoas como uma arte menos importante.
Rir é sim muito importante e essa é nossa missão: Fazer as pessoas rirem, se conectarem com a alegria!!!

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