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MATO GROSSO DO SUL: Nossa história documentada

11 Out 2021 - 09h32Por *Eddson C Contar
Posse de Harry Amorim Costa e instalação do Governo de MS. Teatro Glauce Rocha - Campo Grande - Posse de Harry Amorim Costa e instalação do Governo de MS. Teatro Glauce Rocha - Campo Grande -

O surgimento do novo Estado, focado simplesmente pelo lado da assinatura da lei complementar, pelo Presidente Geisel, em 1977, agride, a meu ver, os valores dos muitos estudos, projetos, lutas e movimentos que, de fato, levaram a criação do Estado, história esta, escrita por muitos que idealizaram e sonharam com a nossa autonomia.

Há que se considerar fatos que vão sendo esquecidos, mesmo tendo servido de base para movimentos que ao longo do tempo “construíram” o sonho divisionista, dando-lhes embasamento para suas pretensões.
É certo que os movimentos regionais foram a força que alavancou a ideia e a consequente decisão de se criar o novo Estado, mas não se pode desprezar os muitos projetos e estudos feitos à nível nacional sugerindo a “redivisão” territorial do Brasil , a exemplo do memorial orgânico de autoria do historiador Antônio Carlos Varnhagem, ainda em 1849, que sugeria, entre outros, a criação do” Departamento de Camapuã” ( Camapuânia), exatamente na porção sul da província de Mato Grosso.

Já em 1870, Tavares Bastos, aponta em sua obra “ A Província”, opinião favorável a criação de províncias e territórios, retalhando o que seria hoje a nossa região, que ficaria composta de pedaços dos territórios Alto Paraguay, Baixo Paraguay , e parte do Alto Paraná.

Em 1880, é a vez do Major Fausto de Souza (geógrafo e físico), cujo “estudo sobre a divisão territorial do Brasil” nos colocava como “Província do Amambai”, tendo como capital, Miranda, num mapa que ficaria muito próximo do atual Mato Grosso do Sul.

Por aqui, os primeiros grandes movimentos separatistas, conduzidos pelo partido Autonomista, liderado por João Caetano Teixeira Muzi e Barros Casal. Depois, o concurso de Bento Xavier e Jango Mascarenhas, entre outros.

Na segunda República (1930 A 1937) reascende-se a chama divisionista, tanto no âmbito nacional, como no regional.
A Sociedade Geográfica do Rio de Janeiro divulga teses voltadas a criação de territórios e Estados, partindo da Grande Comissão Nacional a sugestão da criação do “Território de Maracaju”, com capital em Nioaque e os territórios de Guaporé e Jaurú a norte do Mato Grosso.

Entre 1932 e 1937, um plano orgânico do General Segadas Viana é aprimorado por Teixeira de Freitas, sugerindo a criação de territórios, entre eles o “Território de Rio Pardo”, com capital em Campo Grande.

Antes porém, em 1932, durante a revolução constitucionalista, o sul de Mato Grosso adere às forças paulistas, resultando na instalação revolucionária do “Estado de Maracaju”, tendo Campo Grande como capital. O sonho durou 83 dias (de 11/06/32 a 02/10/32), sendo o novo Estado dissolvido em virtude da vitória dos “legalistas de Vargas”. Teve como governador o médico Vespasiano Martins.
Imediatamente após a revolução de 32, estudantes sul mato-grossenses, fundam, no Rio de Janeiro, a “Liga Sul Matogrossense (sic) de Estudantes” , tendo Campo Grande como sede legal, voltada ao movimento de desmembramento do Estado de Mato Grosso, liderando uma campanha que reuniu vinte mil assinaturas, num manifesto que foi entregue ao chefe da nação e ao congresso nacional, gerando novos protestos do norte do Estado.
Com o advento da segunda grande guerra, o movimento estagnou, mas voltou a tona logo após a vitória dos aliados, embasada no conceito de soberania, então em moda, no movimento que envolvia ideias de segurança, povoamento e das faixas de fronteira.

Mesmo durante a guerra, o Governo de Getúlio Vargas, cria e instala o “Território Federal de Ponta Porã”(1943) desanexando-o do Estado de Mato Grosso. O Território abrangia as cidades de Ponta Porã (capital do território), Porto Murtinho, Maracaju, Miranda, Bela Vista, Dourados, Nioaque e Miranda. Divergências políticas e desentendimentos por mudança de capital, geraram atrasos nos projetos e obras de infra estrutura, ocasionando o fim do território em 1946, voltando a região a fazer parte de Mato Grosso.

Novas manifestações e teses voltaram a ser discutidas, incluindo-se aí dos territórios de Jauru, com capital em Cáceres, e do Território de Maracaju, capital em Campo Grande, além de manobras políticas encetadas por políticos do sul, quando da reforma constitucional do Estado (1947), onde uma simples emenda que previa a mudança da capital (Cuiabá) para outra cidade, em caso de calamidade pública, quase termina em tragédia, tendo os deputados sulistas sido acuados num hotel, enquanto uma turba, comandada por um líder político do norte, marchava armada em direção ao hotel.

No outro dia, onze caixões estavam à porta da Assembleia Legislativa, com o nome de cada deputado sulista.
Graças a interferência do Secretário de Segurança, Afrânio Figueiredo, por ordem do Governador Arnaldo Estevão de Figueiredo, os deputados puderam retornar para suas cidades no sul em segurança.

Em 1957 o Movimento pela Divisão ganha força liderado por um grupo de estudantes no Rio de Janeiro e jovens de Campo Grande, orientados por Paulo Machado e Waldir dos Santos Pereira. Participam desse movimento, entre outros, Ciriaco Maymone Filho, Eduardo Contar Filho, Flávio de Andrade, Haroldo Barbato,  Enio Peres, Jorge Siufi, Gabriel Spipe Calarge, Alex Saad, Ronaldo Maia, Ramez Tebet... Lançam novo manifesto e publicam um cartaz criado por Ciriaco Maymone Filho, alusivo ao Movimento “DIVIDIR PARA MULTIPLICAR”.

Depois, movimentos esparsos e estudos feitos pela ADESG,  num dos quais tive a honra de ser o relator do grupo liderado pelo Dr. Milton Soares Miranda, recomeçaram a movimentação política em torno da criação do Estado sulista, sendo a “Liga Sul-Mato-Grossense” reativada em 1977.

E foi naquele ano que aconteceu a sonhada assinatura da Lei Complementar nº 31, sancionada pelo então Presidente Ernesto Geisel, criando o Estado de Mato Grosso do Sul, tendo Campo Grande como sua capital.

Como se vê, foram muitos os que apresentaram ideias, teses e projetos voltados a “redivisão” territorial do Brasil, sempre incluindo nossa região nos vários documentos levados ao Imperador e depois aos Presidentes da nova República, além dos movimentos regionais, cujos líderes enfrentaram verdadeiras revoluções em busca de nossa autonomia...a eterna “guerra” que muitos dos nossos políticos enfrentaram para fazer valer a vontade do nosso povo.

Assim, nasceu MATO GROSSO DO SUL!

A divisão tão discutida acabou por ser benéfica para os dois lados que hoje são destaques no País como celeiros de produção e desenvolvimento harmônico.

*Jornalista- Escritor- pesquisador
Presidente do Instituto Eduardo Contar (Genealogia e história)
Associado Emérito do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso do Sul.
Pesquisa e mapas: Arquivos do Instituto Eduardo Contar

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