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Crenças religiosas "derrubam" vacinação e aldeias seguem aglomerando

Lideranças religiosas estariam incentivando a resistência da vacina por acreditarem ser a "marca da besta"

07 Fev 2021 - 14h01Por Valéria Araújo
Crenças religiosas "derrubam" vacinação e aldeias seguem aglomerando - Crédito: Marcos Ribeiro Crédito: Marcos Ribeiro

Notícias falsas e crenças religiosas estão derrubando o movimento de vacinação contra a Covid-19 nas aldeias de Dourados. A situação preocupa o cacique Gaudêncio Benites, da Aldeia Bororó, que estima queda de 50% na procura. "A campanha teve início com boa participação da comunidade, porém o movimento foi caindo porque existe muita resistência. Essa renúncia é fruto de informações equivocadas que estão sendo espalhadas nas comunidades", explica.

Segundo o cacique os boatos vão desde a ineficácia da vacina, bem como ela seria a "marca da besta", uma citação prevista no Livro do Apocalipse. "Nada disso é verdade. Por essa razão tenho incentivado que a comunidade se vacine. A imunização nesse momento é importante para que possamos parar com as mortes e infecções pela doença", ressalta.

De acordo com o cacique, a resistência para tomar a vacina preocupa. "Tenho ido nas distribuições de cestas básicas para falar com a comunidade em guarani e pedir para que se vacinem, mas acredito que as autoridades estaduais e municipais poderiam reforçar esse apelo com carro de som nas aldeias", destaca.

Membro do Conselho Fiscal de Saúde Indígena, Fernando de Souza, disse ao O PROGRESSO que além do que chega por meio de notícias falsas a comunidade ainda precisa lidar com questões de ideologia religiosa. Segundo ele, existe a informação de que líderes religiosos estariam incentivando a comunidade a resistir contra a imunização. "Estamos buscando identificar essas lideranças, reuni-las e esclarecer eventuais pontos de dúvidas", ressalta.

Segundo Fernando, a Reserva de Dourados concentra hoje cerca de 100 templos religiosos de origem não indígena e apenas três casas de rezas tradicionais da comunidade.

A pedagoga J.G, de 28 anos, moradora na Aldeia Bororó, disse que metade da aldeia não quer se vacinar por causa de ideologias religiosas que estão sendo difundidas. Ela explica que na casa onde mora a família se imunizou com exceção do irmão dela que frequenta uma igreja pentecostal. "Ele não quer tomar. Não acredita na vacina por entender que tudo tem um propósito. Prefere pegar a doença do que se imunizar", ressalta.

Ela continua: "As pessoas não querem tomar a vacina com medo de virar jacaré, zumbi, essas coisas. O pastor diz que é coisa do diabo e por isso os indígenas estão com medo", diz, observando que essas lideranças pedem para que a comunidade não se vacine através de conversas informais.   

A professora reforça ainda a preocupação com a falta de cuidados de prevenção e a falta d'água que assola a reserva e que é fundamental para prevenção da doença. Ela também destacou a desorganização durante as entregas de cestas básicas.

Segundo ela poucos usam máscara e a grande maioria fica aglomerada à espera dos alimentos. O PROGRESSO esteve no local na manhã de quarta-feira e constatou o grande número de pessoas sem proteção. Uma multidão estava agrupada sem distanciamento social recomendado durante a distribuição na Vila Olímpica Indígena.

Metade se vacinou

Segundo Boletim do Distrito Sanitário Especial Indígena de Mato Grosso do Sul, no último dia 31, ao todo 49% da população indígena havia se vacinado. Na região de Dourados que abrange aldeias nos municípios de Douradina, Dourados, Maracaju e Rio Brilhante, o público esperado é de 10.511 pessoas, mas até aquela data 4.894 se imunizaram. Já no último dia 2, o percentual de imunização subiu para 51% nesta região.

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