No Brasil, a ideia da “Responsabilidade Social” ganhou força nos anos 90, no momento em que houve uma forte redução do papel do Estado, colocando-se a necessidade do setor empresarial colaborar para amenizar as questões sociais e melhorar sua imagem. O conceito evoluiu e hoje o selo de responsabilidade social é “colado” principalmente nas empresas que buscam meios de minimizar os impactos ao meio ambiente de suas atividades. Nos anos 2020, a palavra de ordem é “sustentabilidade”.
É nessa esteira que a indústria têxtil, a segunda a gerar mais poluentes do mundo, só sendo superada pela indústria do petróleo, encontrou um aliado que não gera quase nada de poluição, proporciona sustentabilidade e, no caso que vamos tratar nesta reportagem, exerce a responsabilidade social de forma efetiva, prática: os brechós, que é como se popularizaram as lojas que comercializam roupas usadas.
A rede de brechós “Peça Rara”, nascida em Brasília há 15 anos hoje, através de franquias, já está em quase todas as regiões do país, com mais de 40 lojas, e o lema que sintetiza a forma como o negócio é “tocado” foi definido pela criadora da marca, Bruna Vasconi: “Não é sobre comprar ou vender produtos usados. É sobre dar vida nova, restaurar, reusar, ressignificar o que já temos no mundo”.
A Peça Rara chegou a Dourados quando a então gerente da uma das agências da Caixa Econômica Federal na cidade Ana Leopoldina Nazario Martins se aposentou. Acostumada ao ritmo do mercado financeiro, claro que em pouco tempo bateu a necessidade de ocupar o tempo. Como já conhecia e admirava o modelo de loja criado em Brasília por Bruna procurou uma socia e encontrou na dentista Rosana Sanches Nakayama a parceira ideal para a empreitada: abrir aqui uma franquia desse modelo novo de negócio. A iniciativa deu mais que certo: hoje a dupla emprega 12 funcionários, tem 1.300 fornecedoras cadastradas e só não expande mais o volume de opções (que segundo o cadastro mantido pela empresa alcança 10 mil peças) por falta de espaço.
“Creio que nosso negócio está dando certo porque todos ganham. A pessoa traz as peças de roupa, que independentemente da marca, passam por uma rigorosa curadoria que avalia o seu estado de conservação. Estando sem nenhuma avaria, mínima que seja, é estabelecido o valor e feita a consignação: quando vendida a Peça Rara fica com 50% e a fornecedora com 50%. Assim, como disse, todos ganham. Inclusive o planeta”, explicou Ana em entrevista a O progresso, acrescentando que ganha também o consumidor, que tem acesso a roupas de qualidade, muitas vezes de grifes famosas, por preços acessíveis.
As peças descartadas geralmente são doadas. As peças deixadas em consignação permanecem em exposição por seis meses, e não sendo vendidas a fornecedora tem a opção de retirar ou de doar para os bazares beneficentes realizadas em bairros como a Vila São Brás e a Vila Cachoeirinha. A arrecadação é revertida em compra de cestas básicas, cobertores, material de higiene para o Lar do Idoso e outras ações sociais. Já foram realizados dois bazares desse tipo e um outro será realizado no dia 06 de agosto, na Vila Cachoeirinha. Talvez esteja aqui o exemplo a ser seguido: a Responsabilidade Social sai do papel e chega na ponta, a quem mais precisa.
No dia 24 de julho, quando completar um ano de atividade, Ana diz que, assim como sua socia Rosana, estarão certas de ter feito um bom investimento: “Acompanho a Rede Peça Rara desde que ela surgiu. Sempre pensei em abrir a loja em Dourados. Me aposentei em 2019 e tenho muita energia para trabalhar, então resolvi investir na franquia. A expectativa é a de trazer para Dourados um novo conceito de brechó. Que as pessoas entendam que as peças paradas no armário podem ganhar vida nova, novas histórias, além delas poderem ganhar um dinheiro extra, sem contar o fato de preservar o meio ambiente. Também ajuda na economia, na geração de empregos. A expectativa com o crescimento da nossa loja é a melhor possível”, afirmou, com o sorriso de quem sabe estar fazendo a sua parte para melhorar, do seu quintal, o planeta.