
São quase 300 quadros, todos feitos de forma involuntária. Aurinda dos Santos, de 69 anos, se encontrou na arte após enfrentar crise de depressão e síndrome do pânico. Os pincéis, as tintas, as cores deram a ela um novo sentido à vida e hoje comemora o abandono de medicamentos e a garantia de se sentir em paz.
Natural de Itaporã, Aurinda trabalhou na roça quando menina. Veio nova pra Dourados, onde trabalhou de doméstica, em casa de família, profissão que levou adiante. Morou em Campo Grande, mas foi em São Paulo que passou grande do tempo - quase 40 anos.
Responsável por cuidar de um de um triplex, a itaporaense sofreu queda de escada durante o trabalho, no ano de 2001. Com deslocamento de fêmur veio a informação que não poderia mais desenvolver as atividades do lar. Entrou em pânico e a depressão a pegou em cheio. Com uma filha pequena pra criar, o desespero tomou conta. A patroa cuidou dela e mobiliou uma casa.
Passando a maior parte do tempo parada, Aurinda, em suas inquietudes, começou a “rabiscar” no caderno de desenho. Foi tomando gosto e percebeu que as figuras involuntárias a acalmavam. “Cheguei a ter contato com uma artista em São Paulo, mas nunca estudei, não fiz curso e não sabia nada de arte. Meus desenhos sempre saem de forma espontânea, sem eu desejar o resultado de cada obra”, conta a artista.
Por aprender sozinha (autodidata), os esboços foram sendo aprimorados e no ano de 2008 passou a levar mais a sério. “Apenas sento na frente do papel ou da tela e começo a rabiscar. Digo que minhas obras mesclam figuras humanas e de animais, sempre com muita cor”.
Em 2015 Aurinda voltou pra Dourados, onde têm parentes. Em seguida sua única filha faleceu. Ficou sem chão e a pintura foi novamente o “remédio” para superar a perda. Como todo bom filho a casa torna, regressou para Itaporã e vive no distrito de Santa Terezinha, junto a quatro irmãos.
Lugar calmo, pacato, Aurinda voltou a desenhar. Quando pinta sente que os desenhos falam com ela e mergulha no universo da arte. Entre caras e bocas que compõem cada obra, o sentimento é de gratidão ao dar vida a cada uma delas. Descoberta pelo artista plástico Diego Campos, de Itaporã, Aurinda agora sonha mais alto. Assim quando acabar a pandemia quer expor as obras.
A menina que deixou Itaporã para viver na maior cidade do País sempre trabalhou de doméstica, mas a arte sempre esteve com ela. Quando jovem fez peças amadoras de teatro, participou de novela na Bandeirantes e fez figurações em filmes.
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