
Dourados tem bem ao lado do seu centro urbano o que provavelmente é o maior banco de sementes com potencial estético e manipulável para serem usadas para confecção de artesanatos do Estado.
Em uma pequena área da Reserva Indígena, mais precisamente na Aldeia Jaguapirú, o casal Lucila Juca Guincher e Demostenes Fernandes mantém um “pomar” com mudas e pés de árvores que produzem sementes de pau brasil, olho de cabra, pariri, saboneteira, olho de boi, jatobá e lágrima de Cristo, dentre outras que garantem matéria prima para a confecção de uma enorme variedade de colares, pulseiras e sofisticadas vestimentas, como as usadas pelas participantes do Miss Indígena, evento já tradicional na Reserva e que tem como quesitos para premiação simpatia, beleza corporal, atuação na passarela,beleza/estética intercultural e cultura/costume/ tradição.
Cultura, costume e tradição também são o tripé do grupo idealizado por Lucila, mais conhecida na Reserva como “Sheila”. Sheila tem 84 anos e aprendeu o artesanato aos 06 anos com a tia Loide, já falecida e que a criou após a morte da mãe, também artesã.
Decidiu manter viva a cultura do artesanato com matéria-prima natural, uma tradição dos povos indígenas, e criou em 1990 o Grupo Boiy (na tradução do guarani para o português, “Grupo das Sementes”) com a intenção de ensinar às crianças e também aos adultos a arte repassada pela tia.
São 60 crianças, 30 adolescentes e 24 mulheres que aprendem a gerar renda literalmente com as próprias mãos. Além do artesanato com sementes, Lucilda é hábil também com outros materiais e produz chocalhos, cocares e flechas.
Nas feiras que participa troca matéria prima com outros artesãos, o que garante a variedade de peças. Sheila faz peças elaboradas com tamanho detalhe que causariam inveja a qualquer designer renomado.
Já levou suas obras ao Festival da América do Sul, ao Festival de Bonito e a exposições de produtos agro-ecológicos realizadas em SP, RS, RJ e SC.
A genial ideia de criar um “pomar de sementes” (desde o processo inicial de colocar as sementes em saquinhos, esperar germinar e plantar e finalmente colher) decorreu da necessidade. Com o desmatamento e a extinção de algumas espécies, a artesã se viu quase sem material para trabalhar.
Para se ter uma ideia, um colar tem em média 120 sementes. Um traje indígena como os usados pelas participantes do Miss Indígena pode necessitar até 1.600 sementes. A torcida de Lucila/ “Sheila” é que a pandemia passe logo e ela possa voltar a expor e vender suas peças Brasil afora.
Enquanto isso, vai ensinando as crianças a tecerem com as mãos, desde já, um futuro digno e dentro das tradições dela e dos seus antepassados.
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