O músico e multimídia Dantas Sólo, que sempre esteve presente na vida cultural de Dourados, empunhando sua guitarra ou não, tem muitas histórias para contar, principalmente do início da década de 80 para cá. Formou bandas de rock, ficou uma temporada em São Paulo, voltou, atuou no mundo do design, enfim, até que teve a ideia de abrir um bar para agitar a galera douradense. O Refúgio dos Anjos deu o que falar.
No final de 1993, após ter gravado o seu disco “Labirinto em linha reta”, Dantas saiu da antiga loja de decoração em que trabalhava, a Najulê Decorações, para investir na noite douradense.
“Ao reencontrar o amigo Anjinho, que era ex-sócio da Taberna do Monte, em Campo Grande, o convidei para a cozinha, sua especialidade. Como era amigo do Paulinho Rigotti, fiquei sabendo que o Carlinhos, irmão dele, estava alugando o antigo Terraço´s - no topo do Edifício Adelina Rigotti – onde hoje funciona a 94 FM”, lembra Dantas.
“O Carlinhos propôs que eu utilizasse o espaço e teria liberdade para utilizar o andar de baixo que havia sido o Espaço Mondrian”.
A ideia era montar o bar em cima e utilizar o andar de baixo para o escritório de projetos de decoração, o que fazia na época. Como não poderia abrir duas empresas ao mesmo tempo, convidou o seu irmão Luiz para ser sócio-proprietário do bar, que se chamaria “Refúgio dos Anjos”.
O sócio de cozinha gostou. Afinal, o nome dele era Anjinho. “Durante a reforma tive o prazer da ajuda de um escultor do Paraná que fez, no local, a escultura de um anjo que sugeri uma mistura com o pensador do Rodin. Recebi também uma artista paulista que fez alguns grafites nas paredes”, completa Dantas.
Foram muitas as despesas: abertura de empresa, decoração, pintura, estrutura de cozinha e outros. O bar ofereceria chopp gelado, porções, lanches e música ao vivo. Então, Dantas convidou os músicos: Nenê, Biko (José Rodel), Telminha (Telma Star), Daniel, e Papagaio.
A equipe de garçons era excelente, porém, houve uma grande perda de dinheiro nos dias de grande movimento, devido a problemas de calote nas comandas. Havia dias de tumulto, apesar da alegria e descontração. O ascensorista não conseguia conter os jovens que queriam subir e até menores tiveram acesso ao bar. A fila para ter acesso dobrava o quarteirão.
“Numa das últimas noites de funcionamento, tivemos um show com o Geraldo Espíndola, numa sexta e que devido ao sucesso se repetiu no sábado”, lembra Dantas.
Coisas estranhas
Infelizmente, numa dessas noites, um jovem menor de idade atirou um extintor pela saída de lixo, e que felizmente, ao cair no térreo não explodiu. “O meu sócio, o Anjinho, pegou o menor em flagrante e torceu o braço dele. Após o incidente as coisas ficaram estanhas”.
Após quatro meses de funcionamento, entre altos e baixos, viria um recado através de um dos garçons: “Temos 12 carros pra te derrubar”.
“Não se sabia se era alguém da concorrência ou parentes do moço em questão. Alguns dias depois, uns caras ficaram até mais da meia-noite, e após se recusarem a se retirar (fechar a conta), depuseram armas - de vários calibres - sobre a mesa e me chamaram para me ameaçar. Servi os caras até quase acabar o estoque. Saíram sem pagar. Depois dessas e outras, sem saber que atitude tomar, decidi fechar o bar. Creio que após ir embora, e deixar para o Carlinhos toda a reforma e a escultura do anjo - que hoje se encontra na frente da atual residência da Dona Adiles – Retribuí a gentileza que ele me fez em confiar um espaço tão nobre”, finaliza Dantas.