Em um já distante 30 de novembro, pegava um ônibus do "Expresso Queiroz" na improvisada rodoviária de Rio Brilhante (MS). Destino: Campo Grande (MS), que ainda nem sonhava em se tornar a capital do estado de Mato Grosso do Sul.
Enquanto o veículo rodava, sem pressa, os 160 km de distância, olhava distraído a monótona paisagem do Cerrado brasileiro. Muitos pensamentos me vinham à mente: dali a alguns dias, um novo ano iniciar-se-ia. Que mudanças iriam ocorrer naquele novo ano?
Havia passado aquele ano de 1971 internado no Seminário Santo Antônio, de Rio Brilhante. Lá, havia convivido, trabalhado e estudado com os padres franciscanos - uma experiência difícil, para um pré-adolescente de 12 anos; porém, absolutamente enriquecedora e inesquecível!
Chegando na futura capital (era chamada pela imprensa, na época, de "Capital Econômica do Estado", ainda uno), depois de um ano de ausência, fui recebido alegremente pelos familiares e vizinhos.
À noite, tive de atender aos apelos de um irmão mais velho, o Aral, para que fôssemos assistir a estreia de um filme do Mazzaropi (Amácio Mazzaropi, 1912-1981), no cine "Alhambra", o melhor da cidade.
Quase me arrependi, pois no seminário os hábitos eram espartanos: dormia-se cedo, e levantava-se da cama mais cedo ainda: às 05:45 hs todos os dias, pois às 06:00 hs começava a missa na capela - e ai de quem se atrasasse...! Resultado: na metade do filme, peguei no sono, sendo acordado pelo Aral, que teve de me contar o final do filme.
Pois bem: no mês seguinte, janeiro de 1972, lembro que minha mãe me questionou:
- Então, rapaz, você vai querer voltar pro seminário este ano?
Pensei por um instante, e respondi: "Não". Ela não perguntou mais nada...!
Mal sabia ela que, com 13 anos recém-completados, e já fazendo a sexta série do ensino fundamental, no colégio "Vespasiano Martins", (ficava ali, na rua 13 de Maio), já tinha feito novas amizades e, principalmente, conhecido uma morena linda, a Amélia Zottos que, naquele ano, iria povoar os melhores sonhos e quimeras juvenis, de um garoto que começava a despertar para a vida - e para o mundo!