Carreiras ligadas ao serviços de saúde lideram o ranking de profissionais com maior desgaste mental. Enfermeiros, médicos, técnicos, auxiliares, farmacêuticos, fisioterapeutas, estão no topo da lista daqueles que mais sofrem com transtornos emocionais e psíquicos. A explicação para isso por ser pela estrutura deficitária de muitos serviços, a falta de condições essenciais e a carga elevada de tensão na rotina laboral.
Com a pandemia do novo coronavírus essa realidade ficou ainda mais caótica. Se não bastasse os desafios já cotidianamente enfrentados, agora um inimigo invisível coloca em risco os próprios trabalhadores. Além deles, seus familiares também, outro motivo da chamada “macro pressão”.
O psicanalista Edgard Machado atua em hospitais do nordeste do país. Em passagem por Dourados ele falou ao O PROGRESSO da importância do cuidado com a saúde mental dos profissionais que estão na linha de frente contra a Covid-19. Segundo o especialista, gestores públicos precisam estar em alerta devido a necessidade desses agentes.
“O estresse e a pressão de lidar com o ofício, acrescido do risco de adoecer, provocam severos problemas de saúde mental, aumentando o turnover e a síndrome de Burnout, além de gerar graves problemas como ansiedade e depressão. Por isso o gerenciamento e acompanhamento da sua saúde mental é fundamental. Seu bem-estar psicossocial nesse momento de crise torna-se indispensável. É necessário que o profissional de saúde cuide de si, ciente de que é a pessoa mais importante no processo de cuidar. Estes profissionais devem conscientizar-se que se não estiver bem, não poderá cuidar de outras pessoas”, afirma.
Para o psicanalista, que já atuou em negociações de conflito entre países na Organização das Nações Unidas, o período de crise pode despertar gatilhos antes neutralizados. Nesse momento, podem vir à tona medos e sensações ora desconhecidas pelo indivíduo. Falar sobre esses sentimentos é importantíssimo para objetificá-lo e descobrir ações imediatas de confronto.
“O esgotamento profissional causado por uma síndrome psicológica decorrente da tensão emocional crônica vivida pelo trabalhador, associada a despersonalização e baixa realização pessoal, leva a situações de instabilidade, que usualmente gostam de chamar de surtar. Isso exige o apoio e acompanhamento de outros profissionais especializados, que tenham experiência em ambientes de pressão e, em situações clínicas, possam efetuar um acompanhamento e orientação a esses profissionais. Aí entra o papel dos psicanalistas, que detenham vivências e experiências anteriores em situações de crise. Da mesma forma que outras doenças relacionadas à ansiedade são consideradas; as condições no local de trabalho podem gerar graves problemas de saúde da sociedade. Essas condições influenciam na saúde dos trabalhadores e podem gerar uma resposta negativa de adaptação do estresse. Assim, conflitos psíquicos podem ser determinados, o que aumenta a necessidade de maior atenção com os sinais e sintomas de atenção à doenças”, explica.
Além do acompanhamento terapêutico, o profissional aconselha que práticas diárias sejam aplicadas a fim de amenizar os efeitos da pressão profissional. “Esses profissionais devem evitar formas errôneas de lidar com estresse e, os demais sintomas apresentados, como utilização de álcool, tabaco e outras drogas. Além de fazer pausas e descansar entre os turnos de trabalho, essas pausas devem conter atividades que auxiliem na melhora cognitiva do profissional. Vale destacar que é importantíssima a atenção com alimentos, mantendo uma dieta saudável, realizando pausas para alimentação, assim como para descanso. Além de fazer atividade física regular quando não estiver em ofício. Manter contato com familiares e amigos por meio das redes sociais será uma alternativa para amenizar os efeitos do distanciamento necessário”, afirmou.
Edgard finaliza destacando a importância de oferecer tratamento psicológico aos agentes da saúde. “O grande problema é que, muitas vezes os profissionais da saúde ultrapassam suas fronteiras e entram num processo de tamanho desgaste, que tem no afastamento a mais eficiente saída. Porém, os gestores conscientes têm verificado que, se não houver um acompanhamento psicológico, esse quadro não se resolve, apenas se mascara”, finalizou.