Quando se é jovem, sonhos, quimeras e fantasias fazem parte do imaginário de cada um. Pois bem: tinha uma fixação por conhecer o Rio de Janeiro desde meados dos anos '70.
A primeira oportunidade surgiu no verão de 1976. Eu e o amigo Waldir Nascimento ("Bujinha") morávamos em Nova Andradina (MS) e planejamos ir ao Rio de Janeiro. Fizemos mil planos: iríamos no carro dele (um prosaico VW Brasília, cor de abóbora), levaríamos uma barraca, acamparíamos na praia (bem sei se era permitido isso), etc. e tal. Não deu certo: nossas férias do trabalho não coincidiram, e o assunto morreu por aí...
Tempos depois, já em Campo Grande (MS), no verão de 1979, voltei a me entusiasmar com a ideia de conhecer o Rio. Queria assistir ao show da Gal Costa ("Gal Tropical"), que estava em cartaz no "Canecão" (antiga casa de shows), mas a "dureza" não permitiu a realização daquele sonho. Meses depois, foi lançado o disco (Long-Play) do show, que comprei e guardo até hoje!
Alguns anos depois, em janeiro de 1984, estava em férias e com "dim-dim" no bolso. Peguei a namorada, a Vanda Maria, embarcamos num voo da Varig e chegamos na "Cidade Maravilhosa" um dia depois do Reveillón 1983/84).
Nos hospedamos no tradicional hotel Glória, ali no Flamengo. Eu parecia um "pinto no lixo": fomos a todos os shows da cidade naquela semana, a todas as praias (urbanas) e a todos os botecos possíveis.
No "Canecão", a musa Gal não estava em cartaz, mas Gilberto Gil estreava seu show "Extra". Conferimos!
Eu parecia um local: certo dia, pegamos um táxi, e perguntei:
- Esta não é a avenida Rio Branco? O motorista: "sim, é esta mesmo".
Disse-lhe, sem titubear: "sabia que o prefeito Pereira Passos levou esta avenida até o mar, em 1904?"
- ué, mas você não disse que era de Mato Grosso (do Sul)?
No penúltimo dia da estada na cidade, fomos a um show da cantora Cláudia numa boate no Leblon chamada "Un, Deux, Trois". Gastei os últimos trocados que tinha no bolso, e fiquei "liso". O jeito foi chamar o gerente da boate, explicar a situação e convencer um motorista de táxi a aceitar um prosaico cheque pra pagar a corrida, já que cartões de crédito eram raros naquele tempo - e a era digital apenas um sonho, que só existia em cabeças como a do jovem Bill Gates...!