Desde sua Independência, o Brasil convive com o déficit público (despesa maior que a receita), com raras exceções em um ano ou outro, ao longo dos últimos 200 anos. Ao assumir, o atual governo fez muitas promessas, fazendo crer que os próceres do lulopetismo tinham aprendido as lições de um passado recente, quando, na gestão de Dilma Rousseff, o governo lançou mão de artifícios ilegais (a chamada "contabilidade criativa", e as "pedaladas fiscais") para contornar o problema.
Agora, o país encontra-se num momento decisivo: ou cumpre o prometido no tal "arcabouço fiscal" - aprovado pelo Congresso ainda no final de 2022, em substituição ao teto de gastos, adotado desde 2016 -, ou haverá uma explosão do déficit e, consequentemente, do endividamento público.
O que se nota, pelas informações da mídia, é que há uma espécie de guerra surda - uma verdadeira queda de braços - entre os setores mais consequentes do governo (representados pelos ministros Fernando Haddad e Simone Tebet), e os eternos "porra-loucas" do lulopetismo, tendo à frente a presidente do PT, Gleise Hoffmann.
Trocando em miúdos o tamanho da encrenca: a promessa de déficit zero para 2024 foi apenas uma quimera; a dívida pública (em torno de R$ 8,8 trilhões) deverá chegar a 80% do PIB ao fim deste ano (era pouco mais de 50% há dez anos). Com isso, a taxa de juros deve se manter elevada, dólar idem, e a desconfiança geral do mercado em relação à capacidade do governo de honrar seus compromissos.
Desta vez, de nada valerá a velha cantilena do boquirroto esquerdismo no Brasil, dizendo (como na nota divulgada pelo PT) de que o corte de gastos é interesse "dos especuladores", do "mercado", e "contra os mais pobres".
O que afeta a todos é o descontrole das contas públicas, que gera inflação, câmbio e juros nas alturas, desemprego, pobreza, "et cetera".
E o que faz Lula, diante deste cenário desafiador? Malandro velho como é, faz de conta que o problema não é com ele, fazendo acenos, ora para os irresponsáveis, ora para os mais comprometidos com a governança pública - para, ao fim e a cabo, não fazer nem uma coisa, nem outra, de olho nas eleições de 2026.
Mas que ele fique esperto: se uma eventual crise econômica bater às portas de todos, e o povo sair às ruas (como no segundo mandato de Dilma Rousseff), o próximo presidente da Câmara dos Deputados (seja ele quem for) poderá abrir sua gaveta e iniciar o processo de "impeachment" de mais um presidente da República. Aí, não faltarão aquelas figuras pitorescas, que ninguém sabe de onde saíram, dizendo em altos brados: "Em nome do povo do Estado tal, meu voto é: sim!"
Então, o jogo será zerado, cairá o pano novamente, para, em seguida, reiniciar a ópera burlesca da política brasileira. Seria uma peça cômica, não fosse trágica...!