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Indígenas que passaram pela AJI retribuem com trabalho na Reserva

Entidade atende anualmente cerca de 30 jovens em situação de vulnerabilidade

19 Set 2021 - 10h00Por Gracindo Ramos
AJI oferece oficinas multidisciplinares e sobre direitos indígenas - Crédito: AJIAJI oferece oficinas multidisciplinares e sobre direitos indígenas - Crédito: AJI

A AJI (Ação dos Jovens Indígenas de Dourados-MS) foi fundada no ano de 2001, pela antropóloga Maria de Lourdes Beldi de Alcântara. Com sede na Aldeia Bororó, a organização vem oportunizando desde então que indígenas das etnias Kaiowá, Ñandeva e Terena de toda a Reserva Indígena da cidade possam ter acesso a formação política e social, fortalecimento da cultura tradicional indígena, socialização entre subgrupos, luta contra o preconceito social e moral, apoio a comunidade indígena e sobre direitos humanos e indígenas.

“Os jovens indígenas que passaram pela AJI, hoje, estão atuando como professores, na saúde, na assistência social. Então isso é um ganho para a comunidade. A AJI foi uma escola para muitos jovens que hoje estão atuando dentro da comunidade”, conta Indianara, vice-presidente da AJI e voluntária. Formada em enfermagem, ela já atuou como enfermeira assistencial no Hospital da Missão e na unidade básica de saúde da Aldeia Bororó. Hoje, a profissional é mestranda em Fisiopatologia Experimental pela Faculdade de Medicina da USP.

Indianara ingressou na AJI aos 12 anos de idade. “Tudo que eu vivenciei na AJI, toda a formação, todo empoderamento, eu sempre tento replicar isso para a juventude que passa pela ação”, explica. Segundo a ativista, a AJI tem como missão empoderar os jovens e crianças indígenas, por meio de atividades interdisciplinares, interculturais e transversais.

“Todo mundo que passa pela AJI, de fato, leva uma esperança, de sempre estar buscando melhorias para a comunidade e, consequentemente, melhorias para a sua vida e para a sua família. Infelizmente, a gente não tem perna para atender muitos jovens. A gente gostaria muito de estar atendendo mais pessoas. A gente sabe o quanto precisa, o quão vulnerável é a aldeia. Mas a gente consegue atender anualmente de 25 a 30 jovens. São jovens que estão em extrema vulnerabilidade. Esse é o perfil da juventude atualmente”, explica a indígena.

A vice-presidente da AJI relata que duas irmãs também participaram da entidade. “Hoje, uma trabalha na educação. Uma outra irmã minha que faleceu se formou em Biologia”, diz. “A gente tem oficinas de fotografia, vídeo, direitos indígenas e todo o processo de formação a gente tenta realizar durante o ano”, complementa. Nas oficinas, são produzidos vídeos, fotografias, rádio, gibis, livros de fotografias, oficinas de capoeira, teatro, circo, artes cênicas, português, informática, direitos humanos, esportes entre outros.

De acordo com Indianara, para que tudo isso aconteça, contam com apoiadores, como o GAPK (Grupo de Apoio aos Jovens Indigenas), Faculdade de Medicina da USP-Laboratório de Patologia, InternationalWorkGroup for Indigenous Affairs-IWGIA, entre outros apoiadores com projetos específicos em órgãos públicos, coletivos ou individuais. “Sem eles poucos avanços teriam sido realizados”, reconhece.

Atuação na Pandemia
“Na pandemia a gente deu uma parada, assim como as escolas aqui dentro da aldeia. A gente retomou as atividades gradualmente, em agosto, realizando as oficinas seguindo todos os protocolos de distanciamento, fazendo escalas de alunos para as oficinas. Todo esse cuidado que a gente tenta trazer”, afirmou Indianara. Sobre a vacinação, a indígena alertou, em entrevista ao O PROGRESSO no dia 1° de setembro, que, “embora tenha iniciado na cidade para juventude de 12 a 17 anos, aqui na aldeia ainda não começou. Então é algo que é preocupante, porque no município iniciou dia 23 de agosto e aqui a gente ainda não tem notícias de quando iniciará a vacinação para a juventude indígena. A gente já deixa o nosso recado para as autoridades para tentar dar a resposta para a comunidade”.

“Nós temos um trabalho de conscientização em relação à pandemia. Fizemos vários vídeos, podcast, para circular no WhatsApp, nas redes sociais da AJI. Em guarani e em português, com falas e depoimentos da própria comunidade. O trabalho da AJI foi primordial, teve um impacto muito grande dentro da comunidade. A gente sempre busca trazer a comunicação aqui dentro da aldeia, trazer os comunicadores que são os próprios jovens indígenas. Muita participação na conscientização, na prevenção da Covid-19. No início da vacinação fizemos a campanha “Vacina Parente” e todo esse trabalho teve impacto na pandemia”, ressalta. 

A AJI é uma organização de base local. Mas Indianara cita que há uma mobilização nacional por meio da APIB (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil), que engloba as organizações. Também há outras organizações como a Aty Guassu, a Asssembleia de Mulheres, Conselho de Terena e Fórum de Caciques. “A própria pandemia aumentou esse diálogo com outros Estados, com outros parentes de outras regiões. Até porque muitas realidades são parecidas, as problemáticas, a questão dos territórios, da saúde, da educação. É aonde a gente acaba dialogando bastante para buscar de fato melhorias para as comunidades indígenas”, conta.

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