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Educação a distância esbarra no desafio do acesso à internet, diz especialista

31 Mai 2020 - 14h09Por Redação
Educação a distância esbarra no desafio do acesso à internet, diz especialista -

Para a educadora Maísa Barbosa da Silva Cordeiro, as transformações na forma de educar não devem sofrer mudanças tão expressiva após a pandemia do novo coronavírus. “Pelo menos no Brasil”, considera.

 

Maísa não vê na educação à distância uma possibilidade no País. Ela considera a falta de acesso à internet como o principal fator. Segundo dados divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) nesta semana, 45,9 milhões de brasileiros ainda não tinham acesso à internet em 2018. Este número corresponde a 25,3% da população com 10 anos ou mais de idade.

Essa falta de democratização da internet precisa ser considerada na hora de avaliar a eficácia do estudo remoto. “Aulas remotas, para a educação básica, só são válidas neste momento de crise”, considera.  Confira a entrevista concedida ao O PROGRESSO.

 

O PROGRESSO: Quais devem ser as transformações na forma de educar, a partir do pós-pandemia, dentro das escolas?

 

Maísa: Olha, para o pós-pandemia, sinceramente não há como prever. Não acredito que haverá grandes transformações no modo de se ensinar, pelo menos por aqui.

 

O.P: Você acha que o ensino a distância é algo que deve ser implementado de forma mais colaborativa quando tudo isso passar? Qual sua avaliação sobre o método dentro do ensino básico?

 

Maísa: Não acho uma opção, nem parcialmente, para o ensino básico, em especial, o público. A escola é mais que um espaço de ensino e de aprendizagem, é local de socialização. Privar a criança ou o adolescente disso é prejudicá-lo em sua sociabilidade, o desenvolvimento de sua percepção ética em situações que só são possíveis no contato diário com colegas e professores. Tirando as dificuldades financeiras, as diferenças sociais, o fato de não termos democratização de internet, de condições de acesso a computadores.

 

O.P: Mas descartar essa possibilidade não seria negar uma realidade cada vez mais inserida no ambiente social? Por exemplo, se isso tornar o ensino mais dinâmico, acessível e barato, não poderia ser uma alternativa a ser implementada, nem que seja parcialmente?

 

Maísa: Eu acredito que é possível dinamizar o ensino, inserir o aluno em uma realidade virtual, ensiná-lo a usar computadores e a tecnologia. Tudo isso dentro da escola. O foco em qualquer ação de políticas públicas não deve ser o de baratear o ensino. Isso é extremamente problemático. Ainda mais dentro de um governo que já sucateia a educação. Baratear mais só se prof der aula de graça

 

O.P: Você acredita que essa crise também serviu para que os pais compreendam o papel da escola e passem a valorizar ainda mais a educação? Desde as instituições aos professores?

 

Maísa: Olha, a construção da ideia do professor e da escola como ambientes prejudiciais e/ou ruins para crianças e adolescentes é antiga e vinculada a uma ideia de poder e de dominação que precisa negar um saber institucionalizado. Desde a desvalorização da ciência. Agora, por exemplo, vivemos em um ambiente de crescimentos de movimento anti científicos, seja o movimento do terra planismo, os movimentos antivacinas. Há todo um movimento de negação do saber científico. Começou com as ciências humanas, com a desvalorização de áreas como a filosofia, sociologia, entre outros. Agora, está em seu grau mais absurdo, como, por exemplo, do presidente indicando remédio. E um remédio que não está aprovado pelos médicos. Há então a negação do saber científico de toda a medicina. É necessário mais do que uma pandemia para que esses pais, que desvalorizam o professor, a escola e o saber científico, mudem. É preciso um resgate de valorização do saber científico, o planejamento de uma participação dos pais de modo mais efetivo na escola, entre outras ações. Escola é lugar de assimilação de conhecimentos científicos, técnicos, mas também  éticos e o desenvolvimento de percepção crítica acerca dos microcosmos e dos macrocosmos.

 

O.P: Sentir na pele o desafio de apoiar os filhos na educação vai sensibilizar os pais para essa importância, tantas vezes ignorada?

 

Maísa: Quem valoriza a educação valoriza em qualquer cenário. Quem desvaloriza, desvaloriza em qualquer cenário. Quem perde, nesse processo, são os educandos. Mas não creio que as aulas remotas são suficientes para inverter uma desvalorização histórica da figura dos professores por parte de uma parcela de brasileiros.

 

O.P: Por fim, o que esperar da educação nesses dias? Como as nossas crianças sofrerão com essas mudanças? O momento é de compreender, reinventar, parar e esperar... o que fazer?

 

Maísa: O momento é de nos adequarmos a uma situação que, espera-se, é temporária. As aulas remotas são válidas e importantes nesse momento, mas também deve ser tempo para compreender que tanto tecnologicamente não estamos preparados, tendo em vista que há uma parcela significativa de brasileiros sem internet, sem computadores e sem conhecimento de manipular ferramentas virtuais de ensino. Igualmente, professores não estavam habituados com as aulas remotas, e estão aprendendo na prática algo completamente diferente do que estão acostumados. Aulas remotas, para a educação básica, só são válidas neste momento de crise. Creio que seja importante interrogar como as crianças já estão sofrendo: isolamento, falta dos colegas e professores, necessidade de aprender em um ambiente ao qual não estão acostumadas, dificuldades financeiras de acesso. Para mim, o momento é de adequações ao momento em que estamos, e, também, um momento de compreensão das crianças, dos professores e dos pais e responsáveis, pois estão todos e todas imersos em um cenário absolutamente diferente.

 

 

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