Na reserva indígena de Dourados, os indígenas estão cada vez mais vulneráveis ao contato com os agrotóxicos, usados de maneira desenfreada pelos agricultores que plantam suas lavouras próximos das residências. A aplicação de defensivos agrícolas é realizada do plantio a colheita e a pulverização faz os produtos circularem pelo ar, chegando até a moradia de muitos moradores das aldeias Jaguapiru e Bororó.
A contaminação vai além dos trabalhadores rurais que exercem o trabalho de pulverização, atingindo também os moradores, inclusive as crianças, pois muitas delas não têm o conhecimento dos riscos aos se expor ao agrotóxico.
Marlon Palácio Nunes, de 15 anos, mora com a avó Júlia Valenzuela na aldeia, em uma casa próxima de uma lavoura de soja. Ele diz que sempre corta capim para alimentar os animais, porém, em dia de pulverização, deixa de fazer a colheita.
Marlon e a avó dizem que sempre observam o dia que os agricultores realizam o trabalho de pulverização, pois muitas das vezes que não viram e tiveram contato com o capim pulverizado, tiveram irritação na pele e bolhas nos braços e nas pernas.
Outros sintomas apontados por eles são enjoos e dor de cabeça, mesmo sem ter contato direto com a lavoura, já que o vento leva partículas para o ar, chegando o agrotóxico até as residências. Na tentativa de amenizar a situação, profissionais da pulverização dizem aos indígenas que os produtos aplicados na lavoura são “remédios”, deixando-os despreocupados e sem as devidas orientações necessárias para evitar o contato ou a exposição aos produtos químicos.
A Constituição Federal define que, “as terras tradicionalmente ocupadas pelos índios, são bens da União”. Já a Lei 8.176/91 considera “crime de usurpação produzir bens ou explorar matéria prima nestas áreas, a não ser com autorização expressa da União”.
O plenário da Câmara dos Deputados aprovou na quarta-feira, por 301 votos a 150 e duas abstenções, o texto-base de um projeto de lei “pacote do veneno”, que facilita a autorização de agrotóxicos no país. Deputados seguem analisando os destaques (sugestões de alteração na proposta). Concluída esta etapa, a matéria volta ao Senado para uma nova votação. A prioridade da bancada ruralista neste projeto é muda a nomenclatura de “agrotóxico” para “pesticidas” para flexibiliza a importação desse tipo de substância química no país.