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Crianças acolhidas confeccionam álbum registrando suas histórias em projeto do TJMS

Atualmente o “Minha História, Minha Vida” está presente em Campo Grande na Casa da Criança Peniel

21 Mai 2022 - 08h45Por Secom/TJMS
Crianças acolhidas confeccionam álbum registrando suas histórias em projeto do TJMS - Crédito: Divulgação Crédito: Divulgação

No mês de maio é comemorado o Dia Nacional da Adoção, data que marca as mobilizações na garantia dos direitos de crianças e adolescentes de crescerem e se desenvolverem sob os cuidados de uma família, conforme estabelece o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente). E foi pensando em preservar as histórias de quem está temporariamente numa casa de acolhimento, enquanto o tempo naturalmente não para, é que surgiu o projeto "Minha História, Minha Vida".

A ação é uma parceria da Coordenadoria da Infância e da Juventude do Tribunal de Justiça de MS com o curso de Psicologia da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) e tem como objetivo levar às crianças e adolescentes, que estão em serviço de acolhimento, a registrarem por meio de desenhos, pinturas, fotografias, etc. suas histórias de vida no tempo presente e também do passado em um álbum oferecido pelo TJMS às casas de acolhimento.

Atualmente o “Minha História, Minha Vida” está presente em Campo Grande na Casa da Criança Peniel, onde 11 crianças são atendidas e no Centro de Apoio e Orientação à Criança - Lar Vovó Miloca, com o atendimento de mais quatro crianças. Existe a expectativa de ampliação para mais 10 atendimentos, alcançando, assim, um total 25 crianças/adolescentes.

A confecção do álbum é realizada semanalmente, durante uma hora, com a participação de estagiários do curso de Psicologia da Faculdade de Ciências Humanas da UFMS. Cada criança acolhida tem o acompanhamento direto de um estagiário.

A coordenadora da Casa da Criança Peniel, Márcia Ribeiro, ressalta a importância da ação para as crianças e adolescentes acolhidos. “É a oportunidade deles interagirem com a sociedade, ao receberem as visitas dos colaboradores do projeto e de receberem uma atenção individualizada. Além disso, a confecção do álbum permite que a história deles não se perca, registrando seus momentos, o que eles gostam e não gostam, além das fotos com pessoas importantes para eles naquele momento, como as tias que trabalham na instituição”.

Após um período de interrupção dos trabalhos por conta da pandemia, explica Márcia, o protejo retornou os atendimentos na Casa Peniel no mês de abril. Das 11 crianças e adolescentes acolhidos no momento pela instituição, todos eles receberam no último dia 27 de abril um álbum do “Minha História, Minha Vida” e os atendimentos já estão ocorrendo semanalmente.

Ela faz questão de encaminhar até mesmo os bebês para a confecção dos álbuns, onde o colaborador encarregado faz os registros fotográficos, além de marcos importantes como a primeira papinha, quando começou a andar e assim por diante. Dentro das páginas também são colados caracóis com fios de barbante demonstrando a altura do bebê e tantas outras memórias de carinho sobre seus primeiros meses e anos de vida.

Já com os maiores, o projeto conta com a participação ativa da criança ou adolescente acolhido. Muitos deles, quando estão vivendo a fase de aproximação com pretendentes à adoção, fazem questão de mostrar os seus álbuns. Quando adotados, eles levam consigo, junto com uma cartinha explicando a importância do álbum, incentivando a nova família a continuar os registros.

As ações são supervisionadas pela Prof.ª Dr.ª Kátia Bazzano, do curso de Psicologia da UFMS. Conforme explica a professora, “a nossa história é de vital importância para sabermos quem somos. O registro da história de vida contribui decisivamente para que a pessoa em desenvolvimento se reconheça e construa a sua subjetividade. A verbalização dos anseios, aspirações, possibilidades e concretizações das crianças e adolescentes ocorre mediante as relações estabelecidas entre a criança, o grupo e o meio onde vivem, numa interação que exprime o agir. Nesse viés, quando o álbum é trabalhado com a pessoa em desenvolvimento, ela passa a se reconhecer dentro de sua própria história de vida, como sujeito singular, onde não raras vezes tudo se confunde na coletividade”.

Segundo analisa a professora, “o projeto Minha História, Minha Vida contribui positivamente para a concretização do preceituado no ECA, oportunizando a consciência de sua própria singularidade onde a convivência reflete-se na percepção e construção de si mesmo enquanto indivíduo e ser coletivo. Observa-se notadamente a significância e o alcance do projeto, sob vários aspectos: a inserção e a interação da criança nos grupos sociais, as transformações cognitivas, da linguagem e comportamentais. Com relação ao atendimento verifica-se a importância do atendimento individualizado, o registro de memórias, anseios e perspectivas para o futuro do participante e sua família, seja ela biológica ou adotiva”.

Acadêmico do 7º semestre de Psicologia da UFMS, Thallyson Veríssimo da Silva participa há pouco mais de um ano do projeto. Ele explica que no estágio junto à Profa. Kátia Bazzano, uma das possibilidades é de integrar a equipe do Minha História, Minha Vida.

Atualmente, Thallyson trabalha na construção do álbum de um pré-adolescente de 12 anos, cuja ação inclui atividades lúdicas, jogos, pinturas e desenhos, com o intuito de envolver parte da história de vida do acolhido na atividade. “O principal objetivo do projeto é ajudar a criança a reconhecer sua própria história: quem sou eu, de onde vim, onde nasci, onde estão meus pais? para ele se reconhecer como alguém pertencendo a uma sociedade”, reflete.

O acadêmico discorre que participar do projeto tem sido uma experiência não apenas profissional, mas também de vida. “Foi meu primeiro contato com alguém que iria se beneficiar do meu trabalho e, como foi um contato com uma criança que vive uma realidade completamente diferente da minha, de imediato eu não sabia muito bem o que fazer. Mas ao longo do tempo fui desenvolvendo habilidades de acolhimento, de escuta, de empatia e respeito e fui aprendendo a lidar com a demanda daquela criança e isto tem sido muito bom para mim, para minha trajetória acadêmica e de vida pessoal. São habilidades humanas que temos que levar conosco independente da profissão que exercemos e que, no meu caso, são importantíssimas, o que tem me ajudado a me desenvolver e entender melhor o meu papel na sociedade”.

Acadêmica também do 7º semestre de Psicologia da UFMS, Fernanda Almeida conta que participa do projeto desde agosto de 2021. Atualmente, ela atende uma menina de 10 anos. Sob a interação com a criança, Fernanda relata que a cada semana está desenvolvendo “uma relação de maior confiança, conseguindo acessar questões importantes do psiquismo dela e de como está sendo o processo de moradia na casa de acolhimento e afastamento de seus responsáveis legais. Além das questões socioafetivas, também enxergamos um avanço cognitivo claro na medida em que a narração de histórias está cada vez mais fluida, assim como a escrita, leitura e interpretação”.

Para a estudante, a participação no projeto tem sido muito enriquecedora, tanto pessoalmente quanto profissionalmente. “É um momento de troca e aprendizagem mútuas, sendo fundamental a interação das crianças com profissionais capacitados na medida em que essas crianças estão em uma posição de vulnerabilidade que acarreta sofrimento psicológico. Além do sentimento de realização por termos contato direto com os benefícios advindos do trabalho com as crianças, conseguimos também ver as teorias do desenvolvimento infantil aplicadas na prática, acompanhando as peculiaridades de cada estágio, o que contribui positivamente no aspecto acadêmico”, finaliza.

Saiba mais – O projeto atualmente é executado por 15 acadêmicos do curso de Psicologia da Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da UFMS, supervisionados pela professora Kátia Bazzano.

O início das ações com as crianças e adolescentes acolhidos se dá por atividades de contação de histórias, brincadeiras livres, brincadeiras dirigidas, pinturas, colagens, massinha de modelar e desenhos, a fim de garantir o estabelecimento do vínculo entre a criança e o colaborador do álbum. A metodologia da atuação do acadêmico no Projeto Minha História, Minha Vida é realizada a partir do triângulo formado por vínculo, livros e álbum, que são ferramentas essenciais para o trabalho efetivo com a criança e o adolescente.

A leitura de histórias infantis sempre antecede a realização das páginas do álbum em função de que as histórias favorecem a imaginação, criatividade e liberdade para as crianças contarem as suas histórias particulares.

Nas visitas semanais são produzidas as páginas do álbum cujo tema pode ser a data de aniversário e datas especiais, dependendo do interesse da criança. Em algumas datas, pré-agendadas com a instituição, os estagiários se organizam e fazem comemorações como Páscoa, Dia das Crianças, entre outras.

O prazo previsto para a duração do projeto é de 12 meses. Este prazo preestabelecido garante para a criança ou adolescente e para o acadêmico a segurança de que as atividades têm um começo, meio e fim.

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