
Desde que o mundo é mundo, pais criam expectativas sobre os filhos. Basta observar os preparativos para o nascimento de um bebê. No enxoval, vestidinhos e bonecas, se for menina; carros e bonés, se for menino. A questão é que a vida e a individualidade dos filhos são muito mais amplas e complexas do que roupinhas rosa ou azul. A maioria dos pais, porém, não se sentem prontos para terem essa conversa. É aí que as relações podem se complicar. Para falar sobre este e outros dilemas que envolvem a comunidade LGBDT (sigla agora acrescida para LGBTQIA+) O Progresso entrevistou Claudia Assunção, ícone da luta pelo respeito e contra o preconceito de gênero. Claudia fundou, em 2004, a Associação de Gays, Lésbicas e transgêneros de Dourados (AGLTD) e desde então tem sido uma voz que não se cala em defesa do que acredita: somos todos iguais e todos merecer ser felizes da forma que lhe aprouver. O conselho para os pais? “Ame seus filhos, pois não existe ex-filho”.
Claudia diz que “não foi necessário contar” aos pais. “Mãe sempre conhece seus filhos. muito jovem ainda minha mãe já percebeu que eu era diferente do meu irmão mais velho na época. Neste período aos 11 anos meu pai me mandou para morar com duas primas em campo grande para tratar fazer tratamento, pois na época o tema era tratado como doença pelos psicólogos”, recordou Claudia. “Tratei por longos 5 anos em uma clinica psiquiatria com vários psiquiatras e psicólogos e assistentes sociais, através de terapias e medicamentos para que eu seria curado da “doença”. Aos 16 anos, quando acabou o tratamento, voltei a residir novamente com minha família. Foi quando resolvi falar que naquele momento iria assumir minha condição de me tornar uma mulher”, prosseguiu.
Sobre a reação ela conta que “de primeiro momento foi difícil, pois meu pai não sabia lidar com a idéia de ter um filho/filha, mulher adolescentes em casa”. Hoje, segundo Claudia e como bem mostra a fotografia que ilustra esta reportagem, ela tem o apoio da mãe, costureira e que inclusive a ajuda das “produções” para alguns eventos.
A partir da própria experiencia e pela militância que tem nessa questão, Claudia lamenta que maioria das vezes a família expulse filhos e filhas de casa. “Essa aceitação é fundamental ou não para o futuro da pessoa tanto na sociedade como consigo mesmo no aspecto psicológico”, pondera a fundadora da AGLTD. “No meu entendimento ninguém é obrigada a aceitar a condição da pessoa LGBT, e sim respeitar a condição com que ela entende ser”, enfatiza, aproveitando para dar um conselho tanto aos filhos como aos pais. “Filhos, criem coragens e fale a verdade a seus pais como você se sente. Pais, amem seus filhos/filhas, pois eles vão ser seus filhos pra sempre, não existe ex-filhos”.
Claudia Assunção faz uma crítica específica: “A gente sempre soube que a educação é a base de tudo, se a pessoa LGBT+, tem as duas bases (sua própria família e acesso a educação de qualidade) o tratamento é outro, mas isso não acontece. A educação ainda tem suas falhas no tocante da exclusão total das pessoas trans/homens e mulheres trans que na maioria das vezes são expulsas das escolas ainda muito cedo na época da sua descoberta. Em vez de serem acolhidas elas são expulsas da base que seria a educação”, denuncia, acrescentando que em pleno século 21 ainda se vê com educadores não sabendo lidar com o diferente. “Isso é muito triste, pois vivemos ainda no invisível”, lamenta, encerrando a entrevista com um conselho tanto a quem ainda não contou aos pais sobre sua decisão de assumir a homossexualidade como aos pais. “Filhos, criem coragens e fale a verdade como você se sente. Pais, amem seus filhos/filhas, pois eles vão ser seus filhos pra sempre. Não existe ex-filhos”. Atualmente, Claudia é Coordenadora de Políticas Públicas LGBTQIA+ da Prefeitura de Dourados.
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