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Cotas raciais

A pobreza no Brasil tem cor: é preta, diz pesquisadora douradense

01 Jul 2020 - 14h00Por Valéria Araújo
A pobreza no Brasil tem cor: é preta, diz pesquisadora douradense -

Ao comentar sobre o ato que revogou a decisão que acabava com incentivo a cotas para negros, indígenas e pessoas com deficiência em cursos de pós-graduação, a professora-doutora Maria José de Jesus Alves Cordeiro, pró-Reitora de Ensino da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS) atribuiu a medida ao fato das entidades que representam os negros do Brasil terem lutado e se manifestado em favor de seus direitos. Para ela, essa articulação já é reflexo das políticas de inclusão raciais desenvolvidas nos últimos anos, que abriram as portas das universidades para os mais vulneráveis. 

“A pobreza no Brasil tem cor e ela é preta. Os mais pobres são negros. Quando me perguntam porque não se estabelece uma política por cota social, ou porque o branco pobre não tem cotas, a resposta é a seguinte: quando você tem um negro e pobre e um branco e pobre quem é que é mais discriminado socialmente, principalmente no mercado de trabalho? Se você tiver uma única vaga de emprego quem é que você acha que vai conquista-la? Isso acontece porque no Brasil ainda temos a cultura de que negro é inferior, é feio e incapaz. Então entre se ter um negro ou uma negra pobre de recepcionista na loja e uma branca pobre, as pessoas escolhem a branca pobre. Esse é o princípio da necessidade de cotas raciais. No nosso País há exclusão pela cor da pele, a exclusão pelo fenótipo do negro, que são as características físicas e quanto mais a pele é mais escura mais discriminada a pessoa será”, destaca. 

A pesquisadora continua: “Na história do Brasil o ingresso do estudante a Universidade foi pelo desempenho, que nós chamamos de meritocracia, ou seja, as pessoas que demonstram mérito no processo seletivo. No entanto quem são elas? Aquelas que têm acesso as melhores escolas, aos melhores estudos, as melhores oportunidades culturais, entre outros. E aí nem o branco pobre fica, já que o branco de classe média alta tem o acesso aos cursos superiores especialmente nos cursos mais disputados como os da área da saúde. Então os negros são penalizados duas vezes. Não têm a oportunidade durante a sua infância e adolescência de cursar boas escolas porque são pobres e precisam trabalhar desde cedo e acabam estudando no curso noturno, trabalhando durante o dia. Então no aspecto meritocrático esse jovem negro vai concorrer com o branco, filho da classe média alta que nunca trabalhou, que só estudou de dia, teve direito a cursos pré-vestibulares, direito  a cursos de língua inglesa e de informática e tantas outras coisas.Qual é o mérito que existe isso?  É como se eu colocasse alguém para disputar uma corrida um com carro super potente e o outro com uma bicicleta. Os dois saindo do mesmo ponto ao mesmo tempo para chegar no mesmo lugar quem é que você acha que ganha?”, indaga.

Ao comentar sobre a decisão do MEC de voltar atrás a professora foi enfática. “Recuaram porque não esperavam que os negros, os indígenas, os deficientes lutassem por seus direitos pela forma como sempre foram tratados, como invisíveis. Mas descobriram que não é mas assim nesse país e isto também é resultado da política de cotas que vem ocorrendo desde os anos 2000 porque quando nós colocamos negros, indígenas, pessoas com deficiência em outros grupos dentro da Universidade na graduação nós estamos oferecendo a estes grupos a oportunidade de receber um processo de formação que vai empoderar não só socialmente mas como cidadão”, destaca. 

Ela continua: “É no contexto da Universidade que descobrem que são capazes que tem direitos que podem avançar, que podem também se formar que podem ir para o mercado de trabalho igual qualquer um. Que o fenótipo, as suas características físicas não são impedimentos para o seu desenvolvimento intelectual, para sua aquisição de conhecimento, a sua formação enquanto pessoa e profissional. Então é nesse sentido que nós precisamos, sim, ainda de cotas porque ainda temos muitos anos pela frente no combate ao racismo no combate à exclusão ao preconceito e a discriminação em relação a todos os segmentos”, explica.

Sobre Maria Cordeiro

A Professora doutora Maria José de Jesus Alves Cordeiro é  pró-reitora de ensino da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul  (UEMS), pesquisadora do Centro de Estudos, Pesquisa e Extensão em Educação,  Gênero, Raça e Etnia - CEPEGRE/ UEMS, membro do Coletivo de Mulheres Negras de MS   " Raimunda Luzia de Brito", Coordenadora da região Centro Oeste  no Consórcio Nacional de NEABs- CONNEABs, Membro da Academia Feminina de Letras e Artes de MS - AFLAMS, membro da Associação Nacional de Pesquisadores/as Negros/as do Brasil - ABPN e membro da diretoria  da Associação Internacional de Investigadores da América Latina e Caribe - AINALC.

 

 

 

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