Em um barracão localizado próximo ao trevo da Perimetral Norte e bem ao lado da Reserva Indígena, a reportagem de O PROGRESSO encontrou, rodeado por plainas, serra circular, bigorna, furadeiras, pranchas de madeira, outras ferramentas e materiais, uma figura que exerce um ofício cada vez mais raro na cidade: a construção de carroças, meio de transporte que, assim como as charretes, fez parte do cenário urbano de Dourados sobretudo nas décadas de 60 e 70. Havia inclusive pontos de charrete, que eram os táxis da época.
José Marques, de 80 anos, completados na última quarta-feira, é relativamente pouco conhecido. Mas quando se fala no “seo” Zezé todos sabem que se trata do homem que fez mais de 90% das carroças que transitam pelas estradas das aldeias Jaguapirú e Bororó. As primeiras feitas por “Seo” Zezé rodaram em Minas Gerais, onde chegou com 18 anos de idade juntamente com o pai, vindos do Rio Grande do Sul. Foi com o pai, diga-se de passagem, que ele aprendeu o ofício. Veio para Dourados há 42 anos atrás e tornou-se referência no ofício, que exige planejamento milimétrico em cada detalhe para que o resultado final não saia torto ou desalinhado. As carroças feitas por “seo” Zezé duram mais de 10 anos, se bem cuidadas. Suportam o peso de até uma tonelada de carga. Sua principal clientela são os índios, mas já fez mini-carroças para adornar canteiros de ruas e jardins de cidade turísticas como Bonito e faz também réplicas das rodas duras (com aço no lado externo da enorme circunferência) utilizadas antes da adoção dos rodados com pneus.
Além de fazer carroças novas, o homem das carroças também conserta as que já fez ao longo do tempo. “Um dia um senhor de Umuarama que veio para cá me trouxe uma carroça para consertar. Olhei bem e não tive dúvidas: era uma carroça que eu tinha feito há mais de trinta anos, quando morava lá no Paraná”, conta “Seo” Zezé. “O dono da carroça não acreditou até eu falar o nome do pai dele. Ficou muito surpreso com a coincidência”, sorri. “Seo” Zezé, sempre sorridente, é o exemplo de quem ama o que escolheu para ganhar a vida. Nas suas contas já fez mais de 800 carroças. Cobra em média R$ 1mil por cada uma, desconta cerca de R$ 400 reais com matéria prima e assim vai levando: não lhe falta serviço. Nem simpatia.