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Temidos, marimbondos podem controlar pragas nas plantações

Vespas também são polinizadoras e seu veneno é promissor em estudos farmacológicos

29 Set 2020 - 13h24Por Gracindo Ramos
Temidos, marimbondos podem controlar pragas nas plantações - Crédito: Divulgação Crédito: Divulgação

As vespas, popularmente conhecidas como marimbondos, causam medo nas pessoas pela ferroada. Quando os ninhos são próximos das casas, estão ameaçados de serem destruídos para que os insetos se afastem. “As espécies que nos cercam sofrem com a falta de conhecimento das pessoas sobre sua importância e o medo de suas ferroadas. É importante frisar que os acidentes graves com vespas sociais são raros e, quando ocorrem, são em decorrência da defesa das colônias ao ataque sofrido, principalmente por crianças. Contanto que mantenham uma distância segura e não perturbem a colônia, as chances de ferroada são baixas”, afirma o biólogo da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD) Nathan Rodrigues, doutorando do programa de Entomologia e Conservação da Biodiversidade. Mas o pesquisador explica também que elas possuem veneno, “um coquetel de substâncias que podem causar apenas dor local e coceira. Porém, em pessoas com problemas alérgicos, um acidente mais grave pode causar complicações sérias. Deve-se avaliar o local e o risco que a colônia vai trazer para os transeuntes. Nos beirais das casas, suportes de ar condicionado ou em árvores, costumam não causar problemas. O recomendado é apenas não as perturbar. Colônias próximas de portas podem ser um problema, pois existe a locomoção constante de pessoas. Neste caso, contate um profissional habilitado para remoção da colônia, sem risco de acidente”. 

O que muitos não sabem é que as vespas são muito importantes para o ecossistema e até mesmo para a cultura de alguns países. Na culinária japonesa, as larvas das vespas são uma iguaria conhecida como ‘hachinoko’. Além disso, também têm impactos positivos para a produção e a ciência. “É conhecida a atuação das vespas no auxílio ao combate de pragas em plantações e cultivares, uma vez que para alimentar suas larvas, predam diversos outros insetos - principalmente lagartas de borboletas e mariposas - que atacam as plantações humanas. Portanto, ter uma colônia de vespas próximo a sua horta caseira ou plantação, pode ser uma boa ajuda contra as pragas”, explica Nathan. De acordo com ele, também há estudos promissores na identificação de fármacos utilizando o veneno das vespas, de maneira semelhante às pesquisas com serpentes. “De fato, já foi encontrada no veneno de uma vespa bastante comum no Brasil, a paulistinha (Polybia paulista), uma proteína promissora no tratamento de alguns tipos de câncer”, conta o biólogo.

Os marimbondos fazem parte da mesma ordem das formigas e abelhas. Eles também são polinizadores. Usam açucares das plantas e precisam de muita proteína para nutrir suas crias. As vespas atuam como animais predadores de uma grande diversidade de larvas no ecossistema. Sua organização é semelhante a uma sociedade humana e dentro de uma colônia existem diferentes trabalhos. “É interessante imaginar como esses pequenos insetos se organizam de forma tão complexa, e isso se deve, em boa parte, à comunicação entre eles. Assim como em nossa sociedade a comunicação é essencial, isso também é verdade entre as vespas. A principal forma pela qual estes animais se comunicam é pelo cheiro (comunicação química), com suas antenas exercendo função similar aos narizes nos humanos”, explica Nathan Rodrigues.

Vespas na região

Conforme o doutorando, “na nossa região, existe mais de uma dezena de espécies de vespas sociais. Não existem espécies que são somente urbanas, porém grande parte necessita de condições ambientais mais conservadas. Apesar disso, algumas espécies são consideradas sinantrópicas (se adaptam ao convívio humano). Nossas casas, árvores urbanas, hortas domésticas e lixos fornecem um local apropriado contra as variações do tempo, proteção contra predadores e outros recursos necessários para o desenvolvimento das colônias. De forma geral, vespas são sobreviventes e sofrem tanto quanto os outros animais com a degradação ambiental. Apenas uma pequena quantidade de espécies consegue se desenvolver no ambiente urbano”. 

O biólogo analisa que uma extinção silenciosa de insetos vem ocorrendo. Segundo ele, estudos já apontam para um declínio acentuado nas espécies. “Pesquisadores estimam que, em 50 anos, haverá cerca de 50% dos insetos que existem hoje. A causa disso se deve a vários fatores, como o desmatamento, urbanização e uso inapropriado de fertilizantes e inseticidas. É importante ressaltar que os insetos são o grupo mais diverso e seu desaparecimento pode causar um efeito cascata de extinções. Imagine como sobreviveríamos sem polinização?”, indaga. As queimadas podem afetar esses insetos direta e indiretamente. As colônias de vespas são fixas e o material do ninho é feito de celulose (semelhante ao papel), que não resistem ao fogo. Mesmo que colônias não sejam atingidas pelo incêndio, a diminuição de recursos naturais no ambiente compromete a sobrevivência. As queimadas afetam a vida selvagem pela redução e fragmentação de áreas preservadas. Como consequência, ocorre a falta de recurso para a sobrevivência dos animais, o que nos leva a situações de invasão de áreas urbanas por animais selvagens. “Vale ressaltar que o que vemos é apenas uma fração do que ocorre, pois na maioria das vezes os animais apenas perecem longe dos olhos humanos. Animais pequenos como os insetos não são vistos nem lembrados pela população, mas são atingidos tanto quanto os de grande e médio porte”, aponta o pesquisador.


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