Uma “mudança de paradigma”, alinhando o setor privado com os objetivos globais, é necessária para enfrentar os desafios do futuro, incluindo aqueles desencadeados pela COVID-19. A afirmação foi feita pelo secretário-geral da ONU, António Guterres, no Fórum de Financiamento para o Desenvolvimento.
O chefe da ONU apresentou um quadro sombrio sobre o ano passado, durante o qual mais de três milhões de pessoas morreram por conta do coronavírus, 120 milhões caíram na pobreza extrema e o equivalente a 255 milhões de empregos em tempo integral foram perdidos.
Ele observou que, com o aumento da velocidade das infecções, “a crise está longe de acabar”. Para ele, é necessário “um enorme impulso ao mais alto nível político” para reverter essas tendências perigosas, prevenir ondas sucessivas de infecção, evitar uma recessão global prolongada e voltar aos trilhos para cumprir a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável e o Acordo de Paris de 2015 sobre mudanças climáticas.
Multilateralismo - Avançar em uma resposta global equitativa para se recuperar da pandemia é “colocar o multilateralismo à prova”, disse o chefe da ONU. “Até agora, falhamos”, lamentou, lembrando que apenas 10 países respondem por cerca de 75 por cento das vacinações efetuadas contra a COVID. Segundo ele, estimativas apontam que o custo global do acesso desigual e o armazenamento de vacinas é de mais de 9 trilhões de dólares. Guterres ressaltou a necessidade de “unidade e solidariedade” para salvar vidas e prevenir dívidas catastróficas e disfunções.
Para definir o rumo para uma resposta e uma recuperação sustentável e resiliente contra a COVID, o chefe da ONU pediu ação urgente em diversas áreas, começando com o fechamento da lacuna de financiamento da iniciativa COVAX, apoiada pela ONU. "Para acabar com a pandemia para sempre, precisamos de acesso equitativo às vacinas para todos, em todos os lugares”,disse. Ele também pediu assistência ao desenvolvimento onde ele é mais necessário.
Soluções - Guterres ressaltou que a crise da dívida precisa ser tratada adequadamente, incluindo “suspensão da dívida, alívio e liquidez”. “Mas precisamos ir além do alívio da dívida”, ele continuou, instando o fortalecimento da “arquitetura internacional da dívida para acabar com os ciclos mortais de ondas de dívida, crises globais de dívida e décadas perdidas”.
O secretário-geral também considera prioritário investir em um novo contrato social, baseado na solidariedade na educação, empregos verdes, proteção social e sistemas de saúde, “a base para o desenvolvimento sustentável e inclusivo”. “Este fórum deve proporcionar ambição e impulso, para financiar um futuro resiliente, inclusivo, equitativo e sustentável para todos”, concluiu.
Retrocesso - O presidente da Assembleia Geral, Volkan Bozkır, observou que a pandemia da COVID-19 “precipitou a maior contração econômica em 90 anos, devastando vidas e meios de subsistência no processo”.
Mesmo com as vacinas iluminando o fim do túnel, ele acredita que o mundo terá "anos de impacto socioeconômico” pela frente. Ainda assim, ele avaliou que o Fórum foi uma oportunidade “para estabelecer as bases para uma recuperação adequada”.
“Vamos aproveitar a oportunidade desta crise para mudar efetivamente para um caminho mais sustentável e resiliente, para demonstrar a força e a utilidade do sistema multilateral e para construir um mundo que vamos, orgulhosamente, passar às gerações futuras”, acrescentou.