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Marina Colasanti fala sobre sua vida entre as palavras

16 Out 2017 - 15h35
Marina Colasanti escreve livros para todas as idades. Para o ano que vem sai, “Mais Longa Vida e “Classificados e Nem Tanto 2” - Marina Colasanti escreve livros para todas as idades. Para o ano que vem sai, “Mais Longa Vida e “Classificados e Nem Tanto 2” -
Da Agência Estado

Todo início de ano, Marina Colasanti planeja o que fará nos próximos meses: conto, microconto, poesia para criança ou para adulto, tradução? A lista de 2017 era grande – pudera, é ano de festa – e o resultado começa a aparecer nas livrarias. Pela Global, acaba de sair "Quando a Primavera Chegar" e, para este mês, está previsto "A Cidade dos Cinco Ciprestes". Uma reedição de "Eu Sozinha", a estreia da autora, também está no prelo. Pela FTD, foi lançada uma nova edição – agora com ilustrações de Guazzelli, e não dela – de "Um Amigo Para Sempre", e pela Brinque-Book, Tudo Tem Princípio e Fim. Todos, com exceção do livro de estreia, são para jovens leitores – mas não só. E a tradução de "Imagine", letra de John Lennon transformada em livro pra criança lançado pela V&R, também é dela.

Vem mais por aí: em 2018, saem, pela Record, "Mais Longa Vida", de poemas adultos, e o infantil "Classificados e Nem Tanto 2".

Tudo isso para celebrar os 80 anos da autora, filha de italianos que nasceu na Eritreia em 26 de setembro de 1937, se mudou para a Líbia, passou a infância na Itália durante a Segunda Guerra Mundial, emigrou, aos 10, para o Rio (para o Parque Lage, onde vivia uma tia), voltou à Itália e de novo ao Brasil, morou na França e vive no Rio. Cada passo, cada olhar, cada mudança... tudo ficou marcado e foi importante na formação da autora, que é dona de um dos mais consistentes projetos literários do país. E premiados – Marina acha "improvável", mas ela, que acaba de ganhar o Prêmio Ibero-americano SM, pode levar o Hans Christian Andersen, o principal da literatura infantojuvenil mundial, em 2018.

80 anos em movimento. Tem sido uma boa vida?

Marina Colossanti: Uma vida interessante, que nem sempre foi boa.

Por causa da guerra?

A guerra não foi tão difícil porque eu era criança. Depois, vieram os problemas na juventude: meus pais se separaram, a doença de minha mãe, a vida ficou um pouco puída, seu tecido ficou esgarçado. Um sentimento de solidão muito forte.

Como uma criança vive numa guerra. Tem consciência? O que ficou dessa experiência?

É treinada para ter consciência para que ela se proteja. Mas a infância tem uma força de vida tão grande que ela sobrevive. A gente brinca como se não estivesse na guerra, se diverte. Lembro de uma vez que ouvimos um barulho numa casa no meio de um parque enorme. Nossos pais tinham ido para a cidade e saímos para caçar o inimigo – eu com seis anos, meu irmão com sete, minha prima com nove e a empregada quase da mesma idade da gente. Saímos armados de facões e rolo de fazer macarrão, e, em fila indiana, andamos em volta da casa para ver se tinha inimigo. Criança é criança. Por sorte, senão as crianças brasileiras das favelas não poderiam ser crianças e as crianças sírias também não. Perde-se a parte da proteção, mas não se perde a curiosidade, a capacidade de aprender e o desejo de viver.

Por que acha que é escritora?

Sempre desejei ser artista e a escrita como eu faço, a que me interessa, que não é só contar uma história, é a arte da palavra. Li muito na infância, na guerra, e ficou essa impossibilidade de viver sem livro. Não sei viver sem ler e, possivelmente, não sei viver sem escrever porque tenho diário desde os 9 anos. A minha relação com a vida é através da escrita.

Há várias maneiras de contar histórias para crianças e adolescentes e muitos seguem o caminho mais próximo do didático, pensando talvez nas vendas. O que deve ser a literatura?

O que quero é emocionar, fazer pensar, deixar coisas em aberto, surpreender. Não quero dar o que querem porque isso não vai acrescentar nada: vai ser o que já conhecem. Quero dar literatura, ou seja, a palavra em vários níveis, contos com várias possibilidades de interpretação.

Do que sente saudade?

De um Brasil mais suave, da Ipanema que eu vivi, da praia em que nadei. Claro, a gente sente saudade das pessoas, mas isso é da ordem natural das coisas. Não sou saudosista da juventude. Não me queixo: acho minha idade ótima. Não tenho medo da morte, não quero viver muito. A cara era mais bonita antes, mas está bem assim. Ando viajando como uma louca, trabalhando como sempre, ou até mais. As filhas estão criadas. Quando temos filho pequeno ou desestabilizado, não podemos morrer. Eu posso, sem medo.
São tempos difíceis, de muito extremismo, muita raiva. A literatura pode ajudar a melhorar essa situação, as pessoas, o mundo?

Shakespeare escreveu em 1500. Dante escreveu a "Divina Comédia" antes. E Homero, antes ainda. E nada mudou. Não acredito que a literatura mude a ordem das coisas. Ela muda os indivíduos – alimenta os indivíduos, dialoga com eles e os ajuda a dialogarem consigo mesmo. E indivíduos se juntam e fazem um partido, se juntam e impõem uma ditadura, fazem uma guerra. Há uma territorialidade e uma prepotência no ser humano, e a sede de poder, o egoísmo, a ferocidade e o sentimento de territorialidade conduzem o mundo mais do que sentimentos profundos individuais – os mais pessoais, íntimos, de ternura, de afeto, de projetos, de desejos, de irmandade e caridade. Eles acabam sendo sempre vencidos na história da humanidade.

É otimista?

Não, e nem pessimista. Leio a história e tiro algumas parcas conclusões. Não tenho a menor ideia do que vai acontecer amanhã. Trump não quer acabar com 26 milhões de pessoas? Não posso ser otimista. Não tenho dados em que apoiar um otimismo que não sinto em mim. Também não sou pessimista. Sou um ponto de interrogação (risos).

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