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Wilson Valentim Biasotto

Não se mata ou prende-se a esperança

16 Dez 2017 - 08h50
Não se mata ou prende-se a esperança -
A Justiça brasileira, tida como lenta, acelerou em um processo que poderia ficar adormecido no TR4. Trata-se do recurso impetrado por Lula, decorrente de sua condenação imposta pelo juiz Moro. 24 de janeiro será o dia da verdade. Ou Lula será inocentado, pois não existe prova concreta de sua culpabilidade ou a Justiça brasileira legará para a história um capítulo cinzento em que demonstrará a existência de um conjunto de atitudes golpistas, articuladas desde Washington, atingindo a esquerda latino-americana.

O colunista Jeferson Miola, afirma que "a aceleração do julgamento [do recurso de Lula] expõe a maquinação processual operada no contexto do chamado ‘direito penal para inimigos’, oposto ao ‘direito penal do cidadão’" e que "esta cartada jurídica de exceção é a compensação da oligarquia golpista à incapacidade de evitar a eleição do ex-presidente Lula nas urnas".

Lula é, portanto, o grande perigo. Não para o povo, mas para a plutocracia sonegadora de impostos, para a mídia corruptora, que ganha direitos de transmissões esportivas oferecendo generosas propinas e para o neoliberalismo, regime que se constitui na exacerbação do capitalismo e que não tem escrúpulos em fazer do povo trabalhador o novo escravo do século 21.

Fernando Henrique Cardoso, ex-presidente que tinha no falecido Sergio Mota o administrador de seu caixa 2 de campanha, o homem da privataria tucana, aquele que se resignara a ter um Brasil dependente, não tem a menor cerimônia em defender a prisão de Lula. Por sua vez o ministro Gilmar Mendes, do STF, abrindo caminhos para o PSDB de Alkmin [o homem da merenda e do sucateamento das Universidades paulistas] concorrer em vantagem, admite publicamente que Lula e Bolsonaro terão dificuldades em candidatarem-se em 2018.

Enquanto isso, obcecado pelas ideias neoliberais, comprometido com os golpistas da FIESP e com o capital internacional, cego em relação aos destinos do povo brasileiro, o presidente Temer e a sua quadrilha, arrasa com uma nação já sofrida e espoliada. E os inocentes úteis, que saíram às ruas vestindo verde e amarelo, pedindo o impedimento de uma presidente honesta, para colocar Temer no poder, aquietaram-se quando, por coerência, deveriam estar defronte ao hospital elevando preces para que Temer recupere a sua saúde.

Tendo feito aprovar a Emenda Constitucional 95, Temer condenou o Brasil à estagnação durante 20 anos, sem investimentos públicos. Uma estupidez, somente justificável se for para (re)conduzir o Brasil ao século 19, pois em épocas de crise o Estado deve investir para recuperar a economia. Não satisfeito, esse governo golpista, rasgou a CLT e as consequências já começam a aparecer, não só na Estácio de Sá, que demitiu 1200 professores, para (re)contratá-los em regime degradante, mas muitas outras escolas já procedem da mesma maneira. E que dizer da funcionária de um grande banco que, tendo perdido uma ação, foi condenada a pagar sessenta e sete mil reais de sucumbência?

Tudo isso, sem falar na absurda reforma do ensino, imposta por medida provisória, da escandalosa privatização de nosso patrimônio, dos perdões concedidos aos grandes devedores do fisco, da política externa de dependência, do sucateamento do ensino público, da desqualificação dos servidores públicos (à exceção de algumas categorias privilegiadas, como exército, justiça e legisladores), da corrupção e das várias tentativas de obstrução da Justiça.

A grande mídia, conservadora e manipuladora da opinião pública, varre para debaixo do tapeta da hipocrisia, os malefícios provocados por esse atual governo, não só por obtusidade, mas também por estar mistificada pela ideologia neoliberal.

Roubam-nos os direitos adquiridos, roubam-nos a verdade, roubarão também a possibilidade de Lula concorrer em 2018? Alguns ainda acreditam na Justiça, mas eu penso que estamos caminhando para uma ditadura jurídico-policialesca. Ao menos, ao que me parece, é o que os Estados Unidos desejam para a América Latina.

24 de janeiro será decisivo, as evidências são de que a sua condenação faz parte do golpe. Lamentável, pois Lula traz consigo a possibilidade de reconciliação nacional. Sua capacidade para o diálogo é surpreendente.

Prender Lula é prender a esperança e [se nenhuma outra porta se abrir] condenar o Brasil à dependência eterna.

Membro da Academia Douradense de Letras. ([email protected])

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