A enxurrada de fatos históricos inseridos em seus anais avalizam essa verdade incontestável. A tal maçã, à que faz menção o texto sagrado dos cristãos foi interpretada pelos doutores da lei como um ato de esperteza da mulher. A sua ação nefasta fez implantar o pecado original. Algo abominável. Mas foi esse entendimento despropositado que ditou a regra de comportamento para povos, raças e nações em evidente prejuízo à mulher.
O Concílio de Trento, um marco singular na vida da cristandade, manifestou-se contrário à mulher ao sustentar que era um ser sem alma. O Concílio foi uma reação à revolução religiosa desencadeada por Lutero. Mas as suas decisões à toda evidencia marcharam na contramão dos ensinamentos deixados pelo Cristo, que exaltou a mulher, garantiu a sua honra, mas, sobretudo, moralizou os costumes públicos. O Cristo avançou ainda mais. Quando venceu a morte e garantiu a todos a certeza da vida eterna, foi para uma mulher que ele anunciou por primeiro a boa nova e a encarregou de difundi-la para o conjunto da humanidade. Não tem nada mais engrandecedor para homenagear a mulher.
Com tudo isso, a humanidade incrédula não propiciou à mulher a possibilidade de exteriorizar suas atividades plenas. Não tem nada mais engrandecedor para homenagear a mulher. A hipocrisia foi tão grande que a ela foi negado desde o despontar da sua existência o direito à educação. A fidelidade que lhe foi exigida resultou imposta mediante uma violência mental tormentosa, e não em virtude que precisa acompanhar as pessoas de bem.
Foi nesse contexto amargo que surgiu o autoritarismo masculino e nefasto dos calhordas, dos cafajestes e dos sórdidos, que transformaram suas companheiras em verdadeira propriedade. Com direito de vida e de morte. Contra os fatos não existem argumentos que afastem a certeza de que a História tisnou a mulher. Só com o advento da Revolução de 1.930, liderado por Getúlio Vargas, que esses erros foram sendo reparados de uma forma tímida.
Hoje, o nosso Congresso Nacional debate as propostas legislativas para inibir as práticas criminosas contra a mulher. São propostas inteligentes e que fecham o cerco contra os que teimam em caminhar na contramão dos tempos modernos. A começar pela pena imposta. As medidas legislativas em discussão alcançam a incauta vítima em outras circunstancias especiais.
A nossa senadora Simone Tebet fez um discurso inteligente sobre o tema. A nova lei não vai acabar com essas atrocidades. Mas o Estado estará sempre presente no sentido de reafirmar o combate a essa prática condenável. Napoleão Bonaparte, que se notabilizou como general, político e estadista, costumava dizer sempre para os seus soldados que a maneira mais inteligente de ganhar uma batalha contra a mulher é fugindo dela. Aqui, talvez, reside uma frase célebre e acertada. A frase convoca-nos para diferentes interpretações. Cada um de nós tem a inteligência necessária para seguir o melhor caminho.
O silêncio, o respeito às opiniões divergentes aliado à tolerância poderão estabelecer os parâmetros que indicarão o desfecho sempre auspicioso para qualquer tipo de discussão. Sem vencedores ou vencidos. Vale a pena apostar nessa tese. Ela engrandece e humaniza o ser humano. E o deixa mais próximo de Deus.
Promotor de Justiça aposentado. ([email protected])