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Título de Cidadão Douradense homenageia a Colônia Matsubara

29 Dez 2017 - 11h34
Shinsuke Ono e Allan Guedes - Foto: divulgação - Shinsuke Ono e Allan Guedes - Foto: divulgação -
Na noite de 12 de dezembro quando foi homenageado com o título de Cidadão Douradense, um filme passou pela cabeça do engenheiro civil Shinsuke Ono, de 72 anos, dos quais 64 radicado em Dourados. No enredo, uma dramática jornada de mais de 20 mil quilômetros vencida em quase 50 dias do Porto de Kobe, no Japão, à estação ferroviária de Itahum, onde desembarcaram 60 famílias japonesas que iriam formar, no final de 1953 do século passado, a Colônia Matsubara na 3ª Linha da Colônia Agrícola Nacional de Dourados (CAND), hoje município de Vicentina.

"A horaria que recebi compartilho com meus saudosos pais Jin e Ichie Ono e é extensiva aos desbravadores e seus descendentes", diz Ono que chegou ao Brasil com 8 anos. Foi o vereador Alan Guedes, do DEM, quem fez a indicação aprovada pela Câmara Municipal de Dourados. "Sou muito grato ao Alan e demais vereadores", afirma.

Resignado, relembra que os imigrantes que formaram a Colônia Matsubara desembarcaram em Dourados à procura de prosperidade e paz. "Em meados do século 20, poucos anos depois da rendição incondicional na Grande Guerra, o Japão em vias de sua reconstrução apresentava sinais de esperança. Mas, os pavores pela guerra foram reiniciados em 1950 com a eclosão da Guerra da Coreia, quando o Japão se tornou uma base militar norte-americana avançada na Ásia. Ao mesmo tempo, a então União Soviética realizara o primeiro teste de explosão nuclear, dando o início à Guerra Fria com Estados Unidos".

De acordo com ele, "neste ambiente de intranquilidade meus pais encontraram num jornal uma esperança. Numa matéria o presidente Getúlio Vargas convidava voluntários para a formação de uma colônia japonesa dentro de um projeto chamado Colônia Agrícola Nacional de Dourados (CAND) no Brasil".

"Então", continua Ono, "meus pais integraram um grupo de 60 famílias de diversas regiões do Japão que partiu do Porto de Kobe, em agosto de 1953, rumo ao Brasil, numa grande jornada de mais de 40 dias de viagem de navio até o Porto de Santos. Depois, mais alguns dias de viagem ferroviária (Maria Fumaça da época) passando pelas cidades de São Paulo, Bauru, Campo Grande e finalmente chegamos na Estação de Itahum, onde demos nossos primeiros passos no chão da ‘Mãe Terra – Dourados’".

O objetivo de Jin Ono era cultivar lavoura de café. Mas, para Ichie Ono havia outro motivo maior: a esperança de encontrar um lugar com paz. "Minha mãe, como todas mães do Japão que vieram para o Brasil, sentiu na pele os horrores da guerra. Não só pela destruição material das cidades, das fábricas, das lavouras e tudo mais, mas também o drama da destruição das famílias", pondera Shinsuke.

E em Dourados, a família Ono e as demais que partiram do Porto de Kobe encontram prosperidade e paz. "A Mãe Terra foi muito gentil. Tudo o que era plantado dava seus frutos, embora às vezes fosse muito rigorosa com estiagem prolongada e invernos muito vigorosos com geadas que queimavam as lavouras quase frutificando, abalando às esperanças dos colonos".

Os membros da Colônia Matsubara, como era chamada a comunidade nipônica da 3ª Linha, hoje no município de Vicentina, enfrentaram as dificuldades com muita coragem e persistência. Tudo era diferente do Japão desde o clima, alimentação, locomoção e, principalmente, a comunicação entre línguas tão distintas.

A barreira da comunicação começo a ser transposta após o segundo ano de implantação da colônia, quando a CAND construiu uma Escola Uni-serial, com um único professor que ensinava o português para várias séries, numa única sala às crianças dos imigrantes. Depois de estudar nas escolas Erasmo Braga e Presidente Vargas, Ono foi para São Paulo-SP concluir o segundo grau e se formou na Escola de Engenharia de São Carlos, da USP.

De volta a Dourados, em 1973, "aconteceu algo milagroso e oportuno na minha vida profissional: o encontro com o prefeito municipal da época, o saudoso João da Câmara, o Totó Câmara, um dos políticos de maior relevância da história deste município, que já em seu segundo mandato me convidou a integrar sua administração", afirma Ono.

Ele assessorou Totó e participou da concretização do Programa Especial de Desenvolvimento da Região da Grande Dourados (Prodegran), que foi um dos maiores projetos de desenvolvimento implantados em Dourados depois da criação da CAND pelo Presidente Getúlio Vargas.

O Prodegran foi o embrião para que Dourados se tornasse um polo de desenvolvimento regional não só do então Mato Grosso, mas do Brasil, posição consolidada com outros projetos dos administradores e parlamentares que sucederam Totó Câmara, além do arrojo do empresariado.

"Aqui fui criado, educado, constitui família e o que sou hoje é graças a Dourados", reconhece Ono.


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