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Editorial

Rota das armas

12 Jan 2018 - 08h00
Rota das armas -
Um mapeamento realizado pela Polícia Federal mostra com detalhes os caminhos utilizados pelos traficantes de armas no Brasil. O roteiro bélico indica que a maior parte das pistolas e revólveres que vão parar nas mãos de facções criminosas, principalmente do Sudeste do Brasil, vem do Paraguai. Os rifles e fuzis, por sua vez, têm origem nos Estados Unidos. Isso é o que mostra o rastreamento de 9.879 armas apreendidas. Bolívia, Argentina e Uruguai vêm em seguida na lista dos principais fornecedores. O tráfico de armamento ocorre a pedido do crime e sai sobretudo da Tríplice Fronteira.

O rastreamento começou a ser feito em 2014, com a criação de um centro específico para esse trabalho e atingiu, no último biênio, o recorde de unidades monitoradas. A maior parte das armas foi monitorada a partir de apreensões na cidade do Rio. Na avaliação dos investigadores, o método acaba sendo mais efetivo do que apenas controlar fronteiras, uma vez que fica possível punir comprador e fornecedor. O próximo passo, de acordo com o diagnóstico, é integrar a atuação dos países para que vizinhos, como o Paraguai, possam punir fornecedores.

Aliado aos relatórios recentes da Polícia Federal outros estudos coordenados pelo Ministério da Justiça não deixam dúvidas de que o Paraguai é, atualmente, o principal corredor de armas. De cada 100 armas em posse de criminosos brasileiros, 29 foram roubadas dentro do país (a maioria de funcionários de empresas de segurança) e 71 chegaram por contrabando. Os dados são da RCI First Security and Intelligente Advising, empresa de Segurança Privada sediada em Nova York, especializada em análise e gestão de risco. Ela também é responsável pela construção da maioria dos 120 bunkers que existem hoje no Brasil.

Dessas, 5% desembarcam por mar, vindas de outros continentes, 8% vêm da Bolívia, 17% do Suriname e a maioria absoluta, 68%, do Paraguai. Com 6,3 milhões de habitantes, o país, que, em 1870, perdeu a guerra para a aliança formada entre Brasil, Uruguai e Argentina, agora, importa uma quantidade de armas suficiente para equipar todos os integrantes da população.



Conforme o relatório da Polícia Federal, as principais rotas terrestres começam em lojas nas cidades fronteiriças do Paraguai, passando pelo Paraná ou por Mato Grosso do Sul e, depois, são distribuídas em São Paulo e Rio de Janeiro. Ainda segundo os levantamentos, além da Tríplice Fronteira entre Brasil, Paraguai e Argentina, nas cidades de Foz do Iguaçu (PR), Ciudad Del Este e Puerto Iguazú. As outras principais vias de entrada são Ponta-Porã (MS) com Pedro Juan Caballero, Guaíra (PR) com Salto del Guaíra e Corumbá (MS) com Porto Suarez, na Bolívia e Santana do Livramento (RS) com Rivera, no Uruguai. A PF ainda cita a fronteira entre Brasil e Bolívia, em Rondônia, a fronteira com a Colômbia, no norte do Amazonas e a fronteira com o Suriname.

Durante as observações feitas pelo serviço de inteligência da Polícia Federal, foi identificada uma rota que utiliza também pequenos aviões vindos da Bolívia e do Paraguai, que transportam drogas e armas com destino ao interior de São Paulo e de Minas. O diagnóstico sobre o tráfico de armas no Brasil, foi coordenado pelo delegado federal Luiz Flávio Zampronha, que defende, além da melhoria da fiscalização nas fronteiras, uma atuação integrada entre os países do Mercosul no combate a esse crime. Segundo ele, para para que sejam punidos não só os compradores, mas também os fornecedores de armamentos.

No entendimento do próprio coordenador do estudo, o trabalho na fronteira não é suficiente. Para que seja considerada eficaz, a investigação tem de envolver as duas pontas, a vendedora e a compradora. Diante dessa premissa, destaca-se a necessidade de criar e aprofundar canais de cooperação entre os países. Nesse sentido, o trabalho conjunto já está avançado em relação a países da União Europeia e aos Estados Unidos ou seja, assim, que a Polícia Federal consegue rastrear uma arma apreendida dessas localidades, o país é acionado para buscar o fornecedor. É a tecnologia e a diplomacia sendo utilizadas a favor do combate ao crime organizado.

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