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Editorial

Destruição do Cerrado

02 Jul 2018 - 07h00
Destruição do Cerrado -
Mais uma vez a mão humana torna-se ameaça real ao meio ambiente e, especificamente, ao Cerrado, que está sendo devastado a cada dia. Como este periódico já vem abordando em algumas edições, o desmatamento já não acontece apenas na Amazônia. Levantamentos recentes feitos por entidades ambientalistas já deixam claro que algumas práticas ruralistas, que está sendo feita há anos em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, sem nenhum projeto de sustentabilidade, representa risco de morte para o bioma. Desde o segundo semestre do ano passado até maio deste ano, o governo do estado aplicou mais de R$ 28 milhões por desmatamento na região do Pantanal. Nesse período, mais de 5 mil hectares foram embargados e terão, por lei, que ser recuperados pelos proprietários das terras. Entretanto, apesar dos inúmeros alertas deste periódico, os dados mais recentes sobre o bioma são assustadores. A destruição de 7.408km2 em 2017 mostra um aumento absoluto de 9% em relação a 2016 que pode indicar uma tendência de aceleração já neste ano de 2018. Segundo especialistas, o tamanho da área desmatada anualmente no Cerrado é inaceitável, uma vez que coloca em risco um dos nossos mais valiosos biomas. Por causa do alto índice de desmatamento, os órgãos intensificaram as fiscalizações nas propriedades rurais na região pantaneira, por meio de monitoramento remoto por satélite. Na avaliação desses mesmos especialistas, a meta é eliminar o desmatamento ilegal nas áreas de Cerrado até 2020. Um dos objetivos desta etapa do plano de combate é responsabilizar os autores de crimes e infrações ambientais, por meio de embargos, multas e obrigação de recuperação da área desmatada e manejo florestal. O governo também pretende intensificar ações que possam prevenir a degradação florestal, fazendo um rastreamento da cadeia produtiva para identificar os principais riscos. Os levantamentos também indicam que, nos últimos dez anos, o Cerrado teve as maiores taxas de desmatamento do Brasil e não tinha o monitoramento periódico do desmatamento. Em 2015 o Ministério do Meio Ambiente já havia apresentado estimativas de perdas do bioma. Agora, é possível mensurar a taxa de perda de vegetação anual e entender a dinâmica do desmatamento, o que se espera que ajudará na sua fiscalização. Conforme estudo divulgado na revista Nature Ecology & Evolution, se nada for feito para conter o ritmo de degradação, o bioma pode sofrer o maior processo de extinção de espécies de plantas já registrado na história, com três vezes mais perdas de flora do que houve desde 1500. Originalmente as áreas de Cerrado ocupavam 1/4 do território brasileiro, sendo consideradas uma das mais ricas em biodiversidade no planeta. No entanto, toda essa riqueza vem sendo severamente negligenciada no último meio século. Essa visão míope sobre o valor do Cerrado compromete não só a biodiversidade, mas também 70% das águas que geram energia. Na verdade, é preciso agir enquanto há tempo. Encarar o Cerrado como um bioma que pode ser entregue à produção de maneira desordenada não é uma escolha aceitável. Por outro lado, Os setores produtivos de soja e pecuária não têm mecanismos efetivos para evitar produtos vindos de área desmatada. Apesar disso, a sociedade como um todo, tem uma oportunidade única, neste momento, de salvar o restante do Cerrado sem impactar a perspectiva futura de crescimento da produção agropecuária. Para isso, segundo um grupo de pesquisadores, seria necessário promover uma intensificação da pecuária, com o objetivo de liberar áreas para a expansão agrícola prevista para o futuro, sem necessidade de desmatar nenhum hectare a mais de vegetação natural. Trata-se de uma medida extremamente favorável para o produtor rural e para a conservação do bioma, uma vez que existe no País, mais de 30% das áreas de pastagem do bioma produzindo muito abaixo do seu potencial produtivo. Isto é um desperdício de um recurso natural tão importante. Entretanto, apesar do risco de extinção do bioma, o Cerrado ainda é pouco protegido pelo Código Florestal, considerando que apenas 20% das áreas privadas são protegidas. Além disso, a prorrogação, pela quarta vez, do prazo para registro das propriedades rurais no Cadastro Ambiental Rural, acaba favorecendo o agronegócio no sentido de não cumprir com a lei de proteção de Áreas de Preservação Permanente e Reservas Legais.

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