Apesar das desculpas apresentadas aos usuários espalhados pelo planeta, durante depoimento prestado ao Congresso dos Estados Unidos da América, o bilionário Mark Zuckerberg, dono do Facebook, ainda não conseguiu explicar o que realmente aconteceu em relação à manipulação de dados e a utilização e informações pessoais de 87 milhões dos mais de 2 bilhões usuários da rede social pela consultoria Cambridge Analytica. Por conta de um acordo ilegal, feito à revelia dos internautas, o conhecimento de preferências e hábitos dos usuários, entre os quais de 443 mil brasileiros, teria facilitado o direcionamento de mensagens durante a campanha que alçou Donald Trump ao cargo de presidente. Embora grave, esse é apenas um dos muitos problemas que preocupam cidadãos desde que a rede mundial de computadores passou a ocupar espaço crescente. De modo que já se faz impossÃvel traçar uma fronteira entre realidade concreta e esfera virtual.
Embora a sociedade se sinta cada vez mais entusiasmada com as maravilhas proporcionadas pelas redes sociais, isso não elimina desconfianças sobre um modelo de negócio que aproveita informações públicas e pessoais dos usuários para inserir nos mais longÃnquos rincões da web algum tipo de publicidade dirigida. E ainda por cima não oferece a segurança de que os dados pessoais estão livres de serem negociados em cadeia infinita.
O que muita gente ainda não percebeu é que uma vez seduzido pelo canto da sereia, fica cada vez mais difÃcil sobreviver no meio das ondas avassaladoras da internet. Basta uma simples consulta em relação ao preço de um determinado produto para o que perfil do eventual comprador, instantâneamente, já esteja totalmente invadido pelos anúncios sobre o mesmo produto e outros similares. São tantas facilidades oferecidas que o tributo a ser pago pelas benesses recebidas além de não ser percebido, na maioria das vezes não chega a ser questionado. Nesse sentido, vale lembrar que, a internet inaugurou em larga escala uma relação inédita em que é dado a qualquer pessoa o direito de publicar o quê e o quanto quiser, algo antes só permitido aos proprietários de empresas de comunicação.
Tudo o que está acontecendo, na realidade, é um claro sinal de que a internet tomou conta da vida das pessoas. Nem mesmo os almoços de famÃlia estão imunes do consumo viciado das informações que se espalham pelas redes sociais. As conversas olho no olho são constantemente ofuscadas pela luminosidade emitida pelas telas das maquininhas cada vez mais sofisticadas. Além de invadir a intimidade das pessoas, as redes sociais também estão ocupando o imaginário das crianças. Aos poucos a ingenuidade infantil dá espaço à s manipulações nefastas que incentivam automutilações e suicÃdios através de jogos com conteúdos depressivos e que passam despercebidos pelos pais, que pela necessidade do afazeres diários ou por falta de experiência com a modernidade, acaba terceirizando a educação dos filhos, deixando eles relegados aos malfeitores tecnológicos, que utilizam a inteligência a serviço do mal e acabam construindo armadilhas, que, aparentemente inofensivas, interceptam crianças e adolescentes e acabam gerando conseqüências que podem afetar o desenvolvimento de uma pessoa para o resto da vida.