Crise internacional

Em onda de violência, imigrantes venezuelanos são expulsos depois de assalto em Roraima

19 AGO 2018 • POR Reuters • 13h00

Moradores de Pacaraima, na fronteira brasileira com a Venezuela, atacaram e expulsaram imigrantes venezuelanos, em uma onda de violência iniciada neste sábado depois que o dono de um restaurante local foi esfaqueado e espancado, supostamente por quatro venezuelanos.

Os ataques forçaram centenas de imigrantes a fugirem de volta para a Venezuela, a pé, enquanto os brasileiros bloquearam a estrada que liga os dois países e puseram fogo em roupas, documentos e outros pertences deixados para trás pelos venezuelanos, como mostram imagens de um vídeo divulgado pelo governo de Roraima

Segundo a secretária de Segurança Pública do estado, Giuliana Castro, os ataques se iniciaram depois que o comerciante Raimundo Nonato de Oliveira, de 55 anos, foi espancado por quatro homens - aparentemente venezuelanos - que invadiram sua casa. Os suspeitos levaram 23 mil reais do comerciante o teriam amarrado, junto com sua esposa, e o espancado.

Ferido na cabeça, Oliveira foi levado inconsciente para o hospital em Boa Vista, capital de Roraima, e passa bem.

Depois de voltar a seu país, segundo a secretária, os venezuelanos ainda atacaram um grupo de 30 brasileiros que fazia compras na fronteira.

Um residente de Pacaraima que pediu para ser identificado apenas como Ismael confirmou por telefone à Reuters que a crise começou depois do ataque ao comerciante. “As pessoas estão queimando os pertences dos venezuelanos que estavam acampados aqui”, disse Ismael. Ele disse que a polícia estava procurando pelos quatro homens.

Fora, fora, fora, volte para a Venezuela”, gritavam os manifestantes aos venezuelanos, enquanto eles passavam correndo pelo posto de fronteira carregando o que podiam, mostraram imagens de vídeo distribuídas pelo governo de Roraima.

Soldados do exército brasileiro estacionados em Pacaraima para ajudar a manter a ordem pediram aos recém-chegados imigrantes venezuelanos que retornassem pela fronteira para sua própria segurança, disse a Secretária de Segurança.

Consultado sobre a crise, o Ministério da Informação da Venezuela não respondeu imediatamente a um pedido de comentário.

No início da noite deste sábado, o Ministério da Segurança Pública brasileiro informou, em nota, que enviará um efetivo extra da Força Nacional de Segurança.

Dezenas de milhares de venezuelanos têm cruzado a fronteira em Roraima nos últimos anos, fugindo da turbulência econômica e política em seu país. O fluxo sobrecarregou os serviços sociais do estado e trouxe aumento no crime, na prostituição e nas doenças, bem como incidentes de xenofobia, disseram autoridades do governo brasileiro.

A economia da Venezuela entrou em colapso já há pelo menos dois anos e há ondas periódicas de protestos contra o governo esquerdista do presidente Nicolas Maduro. Desde 2017, milhares de venezuelanos cruzam a fronteira com Roraima, e uma parte significativa fica no país. De acordo com dados da prefeitura de Boa Vista, cerca de 25 mil venezuelanos estão na cidade.

O governo de Roraima declarou o fluxo de imigração como uma crise social e já fez diversas tentativas de fechar a fronteira. No início deste mês, a justiça federal do estado havia determinado o fechamento da fronteira, decisão depois derrubada pelo Tribunal Regional Federal da 1a região.