Tecnologia

Startups de mulheres geram mais receita

4 JUL 2018 • POR da Redação • 10h50

Startups fundadas por mulheres recebem muito menos investimento que as criadas por homens. Ainda assim, as empresas lideradas por elas dão um retorno maior em receita no longo prazo do que as comandadas por eles. Essa é a conclusão de um novo estudo realizado pelo Boston Consulting Group (BCG), em parceria com a MassChallenge - rede de aceleradoras norte-americana que oferece mentoria e recursos para startups -, e obtido com exclusividade pelo jornal O Estado de S. Paulo.

Ao analisar 350 empresas que foram aceleradas em programas do MassChallenge, sendo 258 fundadas por homens e 92 criadas por mulheres, o BCG observou que as empresas com fundadoras do sexo feminino receberam, em média, US$ 935 mil em investimentos. Enquanto isso, as companhias fundadas por homens receberam US$ 2,1 milhões, em média, em aportes de capital de risco.

Em longo prazo, porém, elas geraram maior receita, apesar do baixo investimento inicial. Segundo o BCG, as companhias cofundadas por mulheres geraram 10% mais em renda acumulada num período de cinco anos: foram US$ 730 mil contra US$ 662 mil, no caso dos homens. Em outras palavras, a cada US$ 1 investido na empresa, as mulheres geraram US$ 0,78, enquanto os homens geraram menos da metade: US$ 0,31.

Disparidade 

Se as empresas fundadas por mulheres geram maior resultado, por que elas não conseguem levantar cifras similares às obtidas pelos empreendedores? Há vários fatores envolvidos, de acordo com o relatório, como o machismo.

Segundo o estudo do BCG, empreendedoras são mais questionadas se têm o conhecimento técnico básico para liderar o negócio. "Os investidores simplesmente presumem que as mulheres fundadoras não têm esse conhecimento", diz o BCG, no estudo.

Nas apresentações feitas aos investidores, esse não é o único entrave. Elas também são olhadas com desconfiança, por não responderem diretamente à críticas. Outro fator está relacionado à ousadia: enquanto os homens fazem projeções mais arriscadas, as mulheres são mais conservadoras.

A falta de familiaridade dos capitalistas de risco com os segmentos em que algumas delas atuam, como cuidados infantis e beleza, por exemplo, prejudica a obtenção de dinheiro.

Otimismo 

Apesar dos desafios, a situação tem melhorado, segundo a empreendedora carioca Fabíola Paes, de 34 anos, que fundou a startup Neomode em 2016. A empresa usa tecnologia para conectar canais físicos e digitais do varejo. "É preciso ser muito firme, mas vejo um movimento positivo de empreendedoras", conta.

Sob sua liderança, a Neomode conseguiu R$ 100 mil em investimento da fabricante de cosméticos L'Oréal em 2016. Desde então, a empresa já levantou sete investimentos anjo e tem 15 clientes ativos, dentre eles a fabricante de cosméticos O Boticário. "Até agosto, pretendemos fechar uma nova rodada e levantar entre R$ 1 milhão e R$ 3 milhões", revela a executiva. A meta é chegar a 40 clientes até o final do ano.

Exemplos como o de Fabíola mostram que o cenário está começando a mudar para as mulheres. "Esse número de fundos e investidores anjo que investem em mulheres vai melhorar quando tivermos mais empreendedoras prontas para desenvolver soluções que se conectam com essas oportunidades de negócios escaláveis", diz Danieli Junco, fundadora da aceleradora B2Mamy, que apoia mães empreendedoras.

Já para Amure Pinho, presidente da Associação Brasileira de Startups (ABStartups), aumentar a presença de investidoras no ecossistema é fundamental para mudar a realidade. "É uma questão de empatia, já que homens e mulheres têm jornadas diferentes", diz. "Se na frente da empreendedora estivesse uma mulher investidora, talvez ela se identificasse mais e investisse no projeto."

Quem já investiu em mulheres, reconhece a boa gestão das startups. "Até prefiro trabalhar com empreendedoras, pois elas costumam ter um foco maior", diz Mike Ajnsztajn, fundador da aceleradora brasileira Ace. "Elas conseguem lidar melhor com as várias tarefas concomitantes de uma startup."