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Por causa da greve, Brasil adia entusiasmo com a Copa do Mundo

29 MAI 2018 • POR • 13h38
Foto: Gonçalo Junior
A greve dos caminhoneiros adiou a euforia dos torcedores com a Copa. A torcida está mais preocupada com a crise de abastecimento e a consequente instabilidade política e econômica que se segue do que com o esquema tático da seleção de Tite. Ou com a recuperação de Neymar. Ao contrário do que ocorreu na mesma época nas últimas edições do maior torneio de futebol do mundo, ainda não há clima de Copa no Brasil. E há quem duvide que a euforia vai se instalar.

A presença da Copa do Mundo em segundo – em terceiro e até quatro lugares – na lista de prioridades do torcedor comum ficou evidente na visita que o Estado fez ontem às ruas do centro da cidade de São Paulo, especialmente à Rua 25 março, maior centro de comércio popular do País. O endereço obrigatório para quem quer comprar todo tipo de bugigangas de Copa do Mundo registrou um movimento 50% menor do que nos dias normais, de acordo com os próprios lojistas.


A ladeira Porto Geral, sempre entupida de carros, estava vazia no início da tarde. Bandeiras, óculos, colares, chapéus, vuvuzelas – sim, elas estão prontas para voltar –, apitos e camisetas enchem as prateleiras. E, até segunda ordem, vão ficar lá.

De acordo com Ondamar Ferreira, gerente da maior loja da região, a greve dos caminhoneiros foi um balde de água fria, e o clima de Copa só vai começar quando a paralisação acabar.

"Na semana passada, quando o time estava em Teresópolis, as vendas estavam indo bem. Mas a greve esfriou tudo", diz o vendedor. "Todos nós estamos preocupados. Nossa esperança é que a seleção vá longe", diz o empresário Pierre Sfeir. Se precisava de pressão, o time de Neymar acaba de ganhar. Jogar bem a Copa pode mudar o cenário.

Os poucos torcedores que pararam nas vitrines para analisar produtos reclamaram dos preços e disseram que vão esperar um pouco mais. "Acho que a gente ainda não está com a cabeça na Copa. Está cedo, né? Tem outras coisas na frente", comentou a cabeleireira Ana Pereira Lima, que estava namorando um colar, mas não o levou.

A paralisação dos caminhoneiros é o problema mais urgente, principalmente nas prioridades de consumo, mas não é o único. Victor Melo, coordenador do Laboratório de História do Esporte e do Lazer da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), afirma que o entusiasmo dos torcedores com a Copa vem caindo.

"No passado, o envolvimento do brasileiro com o evento era maior. Talvez porque grande parte dos jogadores não jogue mais no Brasil, reduzindo-se a identificação. Ou talvez possa ser algum desdobramento da última Copa, quando tivemos algumas decepções, entre as quais um resultado inesquecível (do ponto de vista negativo) em um jogo contra a Alemanha e os inúmeros problemas que ocorreram antes, durante e após o evento, o fracasso da promessa de que esse deixaria um legado ao País", diz.

Atletas. Os jogadores perceberam que algo está diferente. "Esses momentos de dificuldade, com certeza, chegam pra gente. Também nos afeta e afeta nossas famílias", disse o goleiro Alisson antes do embarque para a Inglaterra. Na sexta, o lateral Filipe Luís declarou que a greve dos caminhoneiros preocupava o grupo, apesar de a delegação não ter enfrentado nenhum tipo de dificuldade ao longo da semana, quando se concentrou na Granja Comary.

A seleção de Tite chegou a Londres de maneira discreta. Do aeroporto de Stansted, onde o elenco desembarcou de um voo fretado, a delegação seguiu direto para o CT da equipe inglesa. Lá, não havia torcedores na porta para receber os atletas.